No
pagode senti a sabedoria popular, na música cantada por Diogo Nogueira, que diz
“água da chuva não sobe ladeira e barco pesado encalha na beira do mar”. Aliás, sabedoria que se aplica às eleições. Ando
buscando, como cachoeirense que ama sua terra – e aqui quer, digamos, viver o
final de sua vida -, o que pensa e propaga cada um dos pré-candidatos a
prefeito.
O que vejo e sinto é que os pré-candidatos,
em seus chamados planos de governo, enxergam a qualidade de vida da população
como se fosse uma abstração, um modismo, uma frase de efeito. Esse é o mote, “vamos
a ele para ganhar o voto” ... Ora,
procurar uma melhor qualidade de vida, uma melhor qualidade de vida para mais
gente, é a razão de ser do administrador, sem a qual a comunidade perde o seu
conteúdo.
E qual seria o planejamento para concretizar
o conceito? Ora, elementar que é fundamental a busca de maior diálogo, maior participação,
maior integração do indivíduo com a comunidade, nos eventos da cidade, no seu
passado. No seu presente e no seu futuro. É, digamos assim para exemplificar,
propiciar maior sentido de identidade entre o ser urbano e a estrutura urbana,
entre seu movimento, a sua respiração, o pulsar de seu coração, o movimento, a
respiração, o pulsar do coração da cidade onde se vive. Quem faz isso?
Assim, por óbvio, é que se tem sentido se
falar – como sempre ensinou Jaime Lerner – de uma cidade mais humana, uma
cidade mais humana para todos. E esse é o papel do planejamento, provocando a
mudança, induzindo a mudança para melhor. A população tem de ser levada a
participar do processo e integrar-se nele – e isso é a verdadeira participação.
Ora, no espaço urbano, por exemplo,
acumulam-se várias atividades: os habitantes moram, trabalham, estudam, compram
bens e serviços, praticam esportes, circulam. O que quero dizer, embora possa
estar divagando um pouco, é que todo ano são necessários novos domicílios, empregos,
vagas em escolas, leitos em hospitais, áreas verdes, praças, bosques e parques,
e que os fluxos de circulação se tornem mais densos; aumentam, de modo geral,
as despesas de manutenção e é necessária a inversão de novos investimentos.
Quando fui dizer isso, para quem só quer
ouvir o que ele mesmo traçou, fui ignorado. A cidade, o município tem que ser pensado em
termos globais. Por exemplo. Uma modificação física com a definição e
implantação de sua estrutura de crescimento, englobando a ossatura viária, o
transporte de massa e o uso do solo e uma única diretriz. Pior ainda foi quando
ponderei – e venho fazendo isso a um bom tempo – que Cachoeiro está
necessitando, urgentemente, de um Plano Diretor. Exatamente para definir a
aplicação dos recursos públicos. Isso sem qualquer crítica a quem quer que
seja...
Não se pode perder – e enfatizo isso – muito
tempo com formulação de teorias, exatamente porque será fatalmente ultrapassado
pelo dinamismo desse organismo vivo que é a cidade.
Por falta de planejamento técnico no
passado, o prefeito Victor hoje está vivendo momentos difíceis na execução de
obras de drenagens de águas pluviais e prevenção das enchentes. São obras que
trazem um grande desgaste porque incomodam o comerciante, o motorista, o
morador mas não imprescindíveis. Tudo isso acontece, é claro, por falta de planejamento
no passado.
Cachoeiro não tem como viver improvisando
mais para corrigir profundos erros do passado. E o que ouço dos pré-candidatos
se resume em críticas ao momento atual, como fossem autênticos salvadores da
pátria. É fácil dizer que as obras de drenagem causaram transtornos, mas preciso
dizer que o prefeito teve coragem de enfrentar um grande erro do passado. São
obras fundamentais para evitar enchentes. Isso melhora a qualidade de
vida. O resto é demagogia.