A escolha do ex-senador Ricardo Ferraço para figurar na chapa de Renato Casagrande como candidato a vice-governador decompõe o panorama eleitoral do Sul do estado. Principalmente em Cachoeiro. O prefeito Victor Coelho, que comanda o cenário político com proeminência, precisa ligar o radar. Ninguém desconhece que a grande frustração política de Ricardo é não ter sido indicado por Hartung, então governador, para ser o seu sucessor, em 2018. Ricardo chegou a dizer que "o fogo amigo" queimou suas entranhas. Não saciou a sua vontade e não perdeu o desiderato. Se a chapa for eleita, claro que estará na linha de frente para buscar a governança estadual, em 2026. Ricardo seria, hoje, um representante da burguesia e viria, além de somar esses votos à chapa do governador, apagaria cenários supostamente incômodos da esquerda para os eleitores conservadores. Renato só pensa em somar, nunca dividir ou diminuir.
Veja. Fustigado, o experiente deputado Teodorico Ferraço, até ontem opositor de Casagrande, explicou: "Não posso votar contra o meu filho". Claro que a candidatura de Ricardo favorece o seu pai, Ferração, a deputada Norma Ayub e seus correligionários. E vice-versa. Mas, curiosamente, divide o poder do prefeito Victor, que ainda possui dois anos de mandato. Por certo o sucessor indicado por ele, que o manterá vivo politicamente, enfrentará a deputada Norma como avidez na prefeitura, tendo Ricardo como porta-estandarte. Dividiu, assim, o terreiro de Casagrande onde Victor passeava sozinho, mas agora Ferração quer encostar. Nesse jogo ele é craque.
Se, porventura, Lula vencer o pleito presidencial, haverá também um candidato a prefeito de esquerda, a conferir o nome. O ex-prefeito Casteglione está na fila, mas existem outros nomes. A direita só se fortalecerá se Bolsonaro conseguir a vitória que tanto almeja. Para tanto vem se preparando o vereador Juninho Corrêa, cujo ídolo maior é o presidente. Está se preparando para isso.
O prefeito Victor precisa agir com esperteza no meio dessas feras e tem que se cacifar nesses dois anos que lhe sobram. Justamente porque vai ficar fora do poder assim que terminar o seu mandato. Ferraço, por exemplo, sabe a dor que é ficar sem mandato. O antigo MDB lhe deixou uns bons anos como empresário do mármore. O xadrez eleitoral está embolado. Por enquanto, Renato é a rainha. Não vai perder fácil a eleição. Seu objetivo agora é só somar. Mas, nunca esquecendo o conselho do velho Tancredo Neves: Numa negociação muito delicada, não se deve apresentar de uma só vez as condições ou exigências estabelecidas por cada parte.