O Cachoeirense Presente de 2022 já está eleito: Wilson Márcio Deps. Jornalista, advogado e apaixonado por Cachoeiro de Itapemirim, ele concedeu uma entrevista à Revista Leia para falar sobre o sentimento e, claro, todo o seu amor pela cidade.
Conta um pouco sobre a sua história com a cidade.
É a história de uma vida. Se a alma é um labirinto, é preciso penetrar nela. A recomposição do tempo passado, a tentativa da união das duas pontas da vida podem constituir-se numa procura também de reconciliação, uma espécie de purgação. O que difere, assim enfocado, do puro e simples saudosismo. Como todo moleque, joguei no infantil de seu Zezinho, nadei na piscina do Liceu, fiz ginástica no Bernadinho Monteiro, fiquei de castigo de joelhos em cima do milho. Os próximos passos foram em busca de uma eventual perfeição que nunca encontrei, seja na vida pública, no jornalismo, no Sesi, na advocacia, na luta contra a ditadura, na amizade, enfim, quero crer que, um dia, quando olhar para trás, verei que os dias mais belos foram aqueles em que lutei.
Como você descreve o seu amor por Cachoeiro hoje?
Só mensurei melhor o quanto era apaixonado por aqui quando estava fora do país e ouvi “Meu pequeno Cachoeiro”, interpretada por Roberto Carlos. A emoção é tão forte que você acaba desabando perto dos outros que passam e que não entendem nada. Lembro até dos sinos da Catedral de São Pedro, ora me acordando, ora dizendo que é meio-dia, ora mostrando que o expediente está encerrando e que é preciso voltar para casa. Olha a mística do Liceu, da banda 26 de Julho, do Bernardino Monteiro, do meu primeiro barbeiro, do trem da Leopoldina, dos meus personagens do Fotocrônicas, entre outros. Quando era secretário municipal, tudo que via de importante queria trazer para Cachoeiro, Casa da Memória, Casa dos Braga, Praça de Fátima, um novo trânsito privilegiando o pedestre e muito mais.
Qual é o seu sentimento após ser eleito Cachoeirense Presente?
Como todo cachoeirense, consciente desse meu amor integral por minha terra e minha gente. Além de tudo, sinto a sensação de que passei por uma onda de afabilidade e carinho. Sou muito grato ao presidente da Câmara Municipal, Bráz Zagoto e todos os ilustres vereadores. Isso me mostra que acertei quando voltei para a cidade. Cachoeiro é meu país, meu mundo e minha terra querida. Parodiando Tom Jobim, eu diria que não moro em Cachoeiro, eu namoro Cachoeiro. Aliás, como diz o velho Braga, não somos nós que dizemos isso, mas os outros. Alguma coisa há por entre os morros, pelas ruas da cidade, nas montanhas, no perfil, no jeito de nossa gente, nas águas do nosso Rio Itapemirim, no voo de nossas garças. Todos nós estamos muito consciente que a glória é fugaz, mas a chama olímpica desse amor não se apaga nunca. Se há mágoas, como diria Raul Sampaio, juntamos ao meu Itapemirim.
O que você acredita que fez durante esse tempo que contribuiu com o crescimento e desenvolvimento da cidade para você, hoje, receber um título como esse?
Há um provérbio chinês que acho interessante e fala: “Há três pontos de vista: o meu, o teu e o verdadeiro”. Penso que tudo que fiz, às vezes com muita pressa e impaciência, como diria minha mãe – meu farol sempre aceso, uma claridade que sempre vinha de dentro – foi pensando que a estratégia do desenvolvimento – aqui no mais amplo sentido – deve ser a qualidade de vida do ser humano, a geração do bem-estar, a criação de empregos, redistribuição de rendas e não concentração de riquezas para que a renda dos pobres receba a ponderação maior do que a renda dos ricos. O ser humano é a medida do desenvolvimento que se mede pela qualidade de vida que usufrui e não pela quantidade de bens que possui. O ser humano, quando nasce, se investe em direitos do ser humano. Errei? “Todo pranto dessas mágoas ainda irei juntar às águas de meu Itapemirim”