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Wilson Márcio Depes: Cachoeirense sempre presente
2022-06-29 00:00:00

 O título de Cachoeirense Presente, neste ano de 2022, foi entregue em boas mãos. Renomado advogado, Wilson Márcio Depes preenche todos os requisitos para receber a honraria e foi escolhido por unanimidade pelos vereadores após indicação feita pelo presidente da Câmara, Brás Zagotto (Podemos). "O nome do Wilson está inscrito na história do Espírito Santo. É uma personalidade que honra Cachoeiro e torna nosso município maior", afirma Brás.


Advogado formado pela Faculdade de Direito de Cachoeiro de Cachoeiro de Itapemirim (FDCI) e presidente da Terceira Turma do Tribunal de Ética da OAB e Membro do Órgão Especial, Wilson possui currículo extenso também no jornalismo, educação e administração pública, já tendo atuado em várias ocasiões como secretário municipal, professor e diretor universitário. Também colaborou com inúmeras publicações do estado, mantendo atualmente coluna na Revista Leia e Jornal Espírito Santo de Fato. Na literatura, alcançou grande destaque com os livros da série Fotocrônicas, em que lança seu olhar humano e sensível sobre personagens populares das ruas de Cachoeiro.

 A escolha do homenageado provocou reações positivas em vários setores da sociedade. "Escolha mais que justa pela história de vida do Dr. Wilson. É advogado, foi secretário municipal, é escritor e membro da nossa Academia. Vibrei com a indicação do meu amigo!", afirmou a presidente da Academia Cachoeirense de Letras, Marilene Depes, que no início de maio, ao lado da jornalista Regina Monteiro, fez pronunciamento na Câmara defendendo a homenagem a Wilson. "É uma pessoa idônea, que representa os advogados, os jornalistas e a importância do Direito e da cultura para a sociedade", avalia Regina.

Confira e entrevista com o homenageado:


Jornal FATO - Como o senhor recebe a escolha unânime do seu nome para Cachoeirense Presente deste ano?

Wilson Márcio Depes - Recebo com muita humildade ao mesmo tempo em que agradeço com o testemunho público e pessoal de minha gratidão.  Conheço a rica história da Câmara que, aliás, é a história da própria democracia. Os vereadores discordam, mas nunca estão separados, pois possuem o mesmo objetivo: o bem comum. Aos vereadores devo gratidão e fidelidade porque a consciência é a única arma que não pode deixar de ser usada. A homenagem me mostra o hoje, o ontem e o porvir.  


O senhor, ao longo da carreira, contribuiu para o desenvolvimento de Cachoeiro como jornalista, advogado, gestor público, escritor e formador de opinião. Conte um pouco da sua trajetória.

Pertenço à corrente dos idealistas-realistas, isto é, dos que procuram ser fiéis a um ideal, mas reconheço que ele não será completamente atingido tão cedo. Mas, portanto, devemos lutar para realizá-lo até o limite do possível. O desafio é uma forma aguda de honradez. Faço um gênero impaciente: carregar água num cesto - mas ser um aguadeiro no deserto.  Enfrento uma violenta batalha: justificar minha existência. Comecei minha vida como estagiário no serviço jurídico do Sesi. Fui jornalista. Ingressei na advocacia. Fui assessor técnico do Senado, professor universitário, diretor da Faccaci, secretário municipal algumas vezes.  Tomara que tenha feito alguma coisa na busca da qualidade de vida de nossa gente. Sempre achei, como administrador, que a alma da cidade reside em cada um dos cidadãos, em cada homem que nela se aplica e nela esgota o sentido da vida.


Como secretário municipal, na primeira gestão de Roberto Valadão, o senhor participou e ajudou a organizar muitas edições da Festa de Cachoeiro, inclusive, naquele período, foi criada a Feira da Bondade, que persiste. Fale um pouco sobre esse período e que importância atribui à Festa de Cachoeiro ainda nos dias de hoje.

A Festa de Cachoeiro foi gestada por Newton Braga a partir do entendimento que Cachoeiro era o seu mundo. Por isso, a Festa é a síntese do humanismo, ideais filosóficos, morais e estéticos que valorizavam o ser humano. Partindo desse princípio, tudo que se alcança na Festa é para valorizar o cachoeirense. E nós, cachoeirenses, usamos essa ideologia Newtoniana, ideologia dos Bragas, para criar a "Capital Secreta do Mundo". Não conheço ideologia mais solidária que essa. Todos os prefeitos se curvaram a ela... Tudo que deu certo lá fora, a gente traz para cá. Como é o caso da Feira da Bondade, inspirada por Dom Helder, no Rio.   


Com seu trabalho de grande relevância na advocacia, já teve contato com grandes mestres e, ao longo dos anos - como professor e, também, no acompanhamento estagiários em seu escritório - contribuiu para a formação de gerações de novos advogados. O que é preciso para ter sucesso nessa profissão?

Fico muito feliz sobretudo porque os estagiários que por aqui passaram - e não foram poucos - hoje são advogados de muito sucesso profissional. Sempre fui muito exigente comigo mesmo e com eles. Pior que o excesso de crítica - tentativa de me absolver... - é melhor que o silêncio que, muitas vezes, coonesta com o erro.  Um velho professor quase me fez desistir da profissão. Disse ele, logo no primeiro ano do curso, "se você não souber falar nem escrever, pode desistir da profissão". Para não desistir, fui procurar um jornal para estagiar. Ainda acho que é estudar... estudar...


O senhor recebe formalmente a homenagem como Cachoeirense Presente, mas, também, homenageou alguns personagens populares de Cachoeiro, com seus livros de Fotocrônicas. Como essas figuras populares contribuem para a cultura cachoeirense?

Em primeiro lugar, não posso deixar de registrar: a convivência com eles. A descoberta do mundo deles. Desde criança convivi com Moringueiro, Geraldo, Miúdo, Nenê, e por aí vai. Era fascinado também pelo carisma de cada um. Certa feita, fui conversar com Roberto Carlos. Me chamou atenção que ele ficava olhando para minha mão. E eu estava com o livro Fotocrônicas 2. Daí ele grita: "Olha o Moringueiro aí...". E pegou o livro para ele. Pronto.  Por aí você pode avaliar a importância cultural de cada um. E o importante é que a renda dos livros foi para ajudar a Casa do Câncer...


 

 

 

 

O que é ser cachoeirense?

É uma parábola de nossa alma. Drummond inventou um verbo que deixou Newton e Rubem Braga com a maior inveja: 'outrar'.  Outrar é repetir aquilo que um rapaz - que morreu com 33 anos - cujo pensamento e as palavras mudaram o mundo: amai-vos uns aos outros. Ser cachoeirense, portanto, é ser capaz de entender a dor do outro como se ela fosse sua; respeitar sua dúvida por sabê-lo tão frágil quanto você mesmo; fazer pelo outro o que você gostaria que fizessem por você. Ser cachoeirense, por fim, é outrar, se pôr no lugar do outro sem deixar de ser você e sem precisar ser o outro.

Link da Matéria:
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