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Cachoeiro é assim...
2021-12-16 00:00:00

    O médico e amigo Sérgio Damião, mais cachoeirense que nós, em sua excelência crônica de ontem neste jornal (14.12), fez alusão aos meus dois livros – Fotocrônicas I e II.  Neles faço registro histórico e ao mesmo tempo emocionado de personagens populares que marcaram minha vida de forma implacável. A homenagem e a lembrança de Sérgio chegam numa hora em preparo o terceiro número. Digo: a receita apurada com a venda dos livros foi revertida para a Casa do Câncer.

 

 Sérgio, com seu olhar arguto, percebe, com fina e delicada – aliás, como é de seu temperamento – crítica social, que um personagem que ele deparou pelas ruas da cidade é um pouco diferente das contidas nos livros de Fotocrônicas. “O seu caminhar pelas ruas da cidade projetam medo”, diz ele. “Ou, no mínimo, estranheza”, acrescenta. Os tempos são outros? Fico me perguntando até que ponto as profundas mudanças em nossa sociedade tenham atingido nossos personagens tão queridos. E como isso se deu. Quando escrevi o segundo número já estava de posse de um celular – presente do amigo Clóvis de Barros.

 A crônica de Sérgio tem-me feito refletir desde de ontem. Aliás, Borges já dizia que um fato qualquer – uma observação, uma despedida, um encontro, um desses curiosos arabescos em que se compraz o acaso – pode ocasionar emoção estética. Aliás, o que fazer com gastas palavras?

 Encontro sossego, afinal. No prefácio do primeiro livro Rubem Braga me salva. Diz que Cachoeiro é uma cidade como as outras. Só que é Cachoeiro, e isso tem demonstrado ser uma impressionante singularidade. Algo especial existe por aí, por essas ruas, e pontes e curvas. As pessoas que não são de Cachoeiro é que dizem isso, e perguntam o que há.  Não há nada. É Cachoeiro. E Cachoeiro é assim, Sérgio.

 

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