Poucos dias antes de completar 100 anos, o fulgurante professor, advogado e intelectual sofisticado Aylton Rocha Bermudes faleceu nessa quarta-feira (10). Aliás, com a mesma serenidade com que viveu. É pai do advogado Sérgio Bermudes, Lucia e Ayltinho.
Os parentes contam que, dias antes de morrer, declamava os mais famosos sermões de Vieira, dividido em 10 partes e escrito à moda conceptista do Barroco, em que há o privilégio do jogo de ideias.
Não me atrevo a dizer que nasceu em Fundão. Timbuí é apenas um acidente. Nasceu mesmo foi em Cachoeiro, terra onde plantou sua grande árvore do saber, da cultura, da dignidade. E colheu os frutos. Se o Liceu não chamasse Liceu, por certo teria o seu nome.
Viveu os momentos difíceis que Sérgio, seu filho, enfrentou e venceu, com a sabedoria dos fortes. Advogado brilhante, deixou muitas lições: "não interessa o que o adversário quer fazer. Mas sim o que ele pode fazer".
Foi advogado do então governador Francisco Lacerda de Aguiar no processo que, afinal, a ditadura lhe obrigou a renunciar ao cargo, em 1966. Advogado, professor, secretário de Estado, procurador, conselheiro do Tribunal de Contas. Tudo que fez deixou sua marca pessoal: genialidade.
Dizia sempre: "pregar é como semear" e foi por essa forma que o professor encontrou um modo de disseminar seus pensamentos. Suas aulas eram um festival de lições para todos. Principalmente no Liceu, em Cachoeiro de Itapemirim.
Em verdade, a figura do professor Aylton foi notável – assim considerada à unanimidade – sobretudo porque sua ação fecundou a cultura e continuará sendo, até o passado mais próximo, infinitamente mais importante que do que seria permitido pressagiar diante da profundidade de seu espírito ou a importância de sua personalidade.
Morreu discretamente. Assim como os grandes homens. A Ordem dos Advogados do Brasil no Estado (OAB-ES), na pessoa de seu presidente José Carlos Rizk, decretou luto oficial em nota publicada na imprensa.