São injustas as críticas endereçadas ao prefeito Victor Coelho relativas à execução de obras de macrodrenagens. São obras valiosas que corrigem erros históricos de falhas na infraestrutura urbana. Os contratempos no trânsito são mau humor provocado pelo calor. O prefeito, com isso, demonstra, duplamente, todos os sintomas que pretende produzir uma profunda arrancada em sua administração, enfrentando obras importantes de macrodrenagens, por exemplo, mas também que se preocupa com as transformações do quadro político com vistas ao futuro.
Hoje o quadro não é igual ao de ontem. Peço licença para lembrar de um prefeito de Vitória, Setembrino Pelissari, com quem desfrutei de grande amizade, que promoveu uma completa reestruturação na drenagem da capital. Lembro-me que, numa conversa com um popular observador, foi-lhe dito: "O povo vai esquecer de você. A obra fica debaixo da terra". Dito feito. Setembrino perdeu a próxima eleição". Mas, no caso, é diferente. Primeiro porque as obras que Victor vem realizando depende uma da outra. Não ficará submersa no esquecimento. Segundo, os meios de comunicação são outros e devastadores. A divulgação é massificante e os registros ficam no inconsciente coletivo. Por vezes sinto que o prefeito precisa divulgar mais o que está fazendo. Casagrande apregoa tudo e com profissionalismo invejável. Só assim para evitar críticas malévolas.
Lula, por exemplo, está gravando, para posteridade, os fatos de 8 de dezembro e a recuperação do que foi destruído. O mesmo deveria fazer Victor, guardadas as proporções. Victor precisa entender que ele já está passando da juventude para a idade de um político maduro. E que os deputados vencedores, que estão bajulando o governador com quatro anos de mandato, buscam as eleições do ano que vem. Não quero fazer crítica pessoal a qualquer um, mas mostrar uma realidade que muitas vezes não é sentida por quem está no poder. Encerrando o mandato, Victor ficará solto ou será bajulado em razão de seu prestígio. São mais dois anos.
Na política, dizia Ulysses Guimarães, se você não pode fazer um amigo, não faça um inimigo. Este guarda o ódio na geladeira, e no momento oportuno terá prazer em fazer uso dele. E sempre haverá um momento desses porque - como dizia Ulysses e sabem todos que fazem parte dela - "a política dá voltas". E os deputados lançam um olhar pra o prefeito de quem quer substituí-lo. E daí pra frente tudo vale. Os dias de hoje são propícios a lembrar o dr. Ulysses - pelo seu exemplo de honradez, mas também pela sabedoria política de que era possuidor. Dizia ele, com surpreendente atualidade: "Primeiro: Não sejam impacientes. A impaciência é uma das faces da estupidez. Eu entendo que quem está na vida política não pode ganhar uma categoria histórica do dia para a noite. O caminho é longo, paciente, perseverante, difícil. Não pode haver afoiteza, impaciência. A impaciência não acaba só com carreiras futebolísticas.
Segundo: Na política, em geral, e especialmente no poder, se você não pode fazer um amigo, não faça um inimigo. O inimigo guarda o ódio na geladeira, para conservar. O inimigo, numa eleição, amanhece na boca da urna dizendo que a mãe do candidato não é honesta. É importante não ter inimigos pessoais. Pode-se ter adversários ferrenhos, como eu próprio tive o Adauto Lúcio Cardoso, o Carlos Lacerda, o Bilac Pinto. E aqui eu recordo um conselho do Perón a Isabelita, prevendo que ela assumiria a presidência da Argentina: "Minha filha, em política você fale muito sobre coisas, pouco sobre pessoas e nunca sobre você". A "coisa" aí é a coisa pública, a tese.
Terceiro: Em política nunca se deve proferir as palavras irreparáveis, irretratáveis. Outro episódio curioso, ocorrido com o senador César Lacerda Vergueiro. Ele tinha sido um grande amigo do Ademar, mas teve com este uma desavença séria. E passou a dizer horrores do Ademar, até da vida pessoal do Ademar. As pessoas iam aconselhá-lo, lembrando que um dia eles poderiam reconciliar-se e que aquilo ficaria mal. Ele respondia: "Nunca. Entre mim e o Ademar está o túmulo da minha mãe". Porque ele atribuía a morte da mãe, velhinha, às perseguições que o Ademar lhe impusera. Mas a política dá voltas: o Ademar convida o César para ser seu secretário de Justiça, e ele aceita. Como você vê, nas coisas da política, nem o túmulo da mãe é algo intransponível.