Ao mesmo tempo em que o governador do Estado assinou edital de licitação, determinando que seu vice, Ricardo Ferraço (PSDB) fosse a Cachoeiro com vistas a construir o Hospital do Câncer, uma das obras mais importantes do Sul do Estado, que vem recebendo aporte de verbas de emendas parlamentares, criou-se também um imbróglio político com vistas à próxima eleição para prefeito. Todos os pré-candidatos querem tirar proveito de um pedacinho da autoria da obra. E com toda razão. A obra possui o tamanho e importância de uma eleição.
É o caso do deputado Bruno Rezende (União Brasil), que como radiologista, teve apoio do Hospital Evangélico na eleição. Ele já se apresenta como pretensão a ser futuro candidato a prefeito de Cachoeiro. A sua boa votação em Cachoeiro superou a de Ferraço (Progressista), tido como favoritíssimo. O que provocou, de modo geral, um aborrecimento do deputado demostrado em entrevista à imprensa.
Ferraço tem em seu banco, para entrar em campo a qualquer momento, a ex-deputada e sua mulher Norma Ayub (Progressista) que poderia ser a sua candidata a prefeita. Norma, então como deputada federal, acompanhou o processo de articulação do hospital. Mais uma razão. Ele precisa recuperar seu prestígio eleitoral. E a hora está passando. Sobretudo porque tem Ricardo, seu filho, na vice-governadoria.
Por outro lado, o prefeito Victor Coelho (PSB), precisa bancar seu sucessor para projetar e delinear o seu futuro. Ao que tudo indica, o candidato de confiança seria o seu vice, Rui Guedes Barbosa, fiel escudeiro. Ou mesmo o deputado eleito Allan Ferreira (Podemos). O quadro geral se apresenta com mais elementos: o vereador Juninho (PL), seguidor ferrenho de Bolsonaro e representante da extrema direita e opositor do prefeito. Não se sabe ainda como será seu posicionamento na próxima legislatura sob o ponto de vista ideológico. Sobretudo enfrentando a carga de pressão sobre o ex-presidente. Difícil será delinear e alinhavar um discurso defensivo.
O panorama que se esboça é o mais claro possível. E a obra de construção do hospital é a galinha de ovos de ouro de cada um deles. Isso porque é uma obra cara e as interseções junto ao governo federal são fundamentais. Principalmente porque o governo federal, hoje, ainda busca uma convergência dos Três Poderes em torno de um pacto pela democracia aberta desde 8 de janeiro, mas não permanecerá assim indefinidamente. Se o governo Lula deixar passar muito tempo depois da eleição das Mesas da Câmara e do Senado sem colocar as propostas para andar, as divergências políticas voltarão a emergir, pautadas também pela controversa agenda econômica do Executivo, e adeus oportunidade de proteger mais fortemente as instituições e o processo democrático, como observa a jornalista Flávia Magalhães.
Onde cabe a construção do hospital nessa conversa? Ora, intenso está que para aprovar o pacote com celeridade, o governo precisará da contribuição do Congresso. O momento atual é propício para isso. Mas há uma disputa que vai ganhando corpo pelo comando do Senado. Embora publicamente Rogério Marinho se coloque como um bolsonarista moderado no páreo, no submundo das redes cresce a pressão dos radicais bolsonaristas sobre senadores, com ameaças àqueles que votarem em Pacheco (o voto é secreto).
O momento é propício para entabulações. Os representantes do estado devem entender que o apoio a Lula hoje é fundamental. A atuação do governo, por sua vez, tem de ser inteligente: uma adesão ostensiva de Lula a Pacheco pode ser a forma mais eficaz de assegurar votos nos partidos. Mas o Planalto precisa acompanhar de perto a disputa para não ser surpreendido por uma reviravolta, como o próprio Lula sofreu em 2005, com a vitória de Severino Cavalcanti na eleição para a presidência da Câmara.
A atuação da bancada em prol da vitória de Rodrigo Pacheco (PSD) claro que facilita o trânsito na obtenção de recursos para a construção do Hospital. E abrir caminhos de diálogo. Por isso a importância da atuação da bancada capixaba neste momento é estratégica e importante. Sobretudo o vigoroso desempenho do governador Renato Casagrande. Aliás, que conhece as entranhas do Senado.