Há políticos que zelam pelo poder achando que a vida política não pode ser algo separado da simples vida humana, com leis próprias, regras de conduta isentas das exigências que se formulam ao homem particular. O homem político seria, assim, um ser extra-humano, logo desumano, e a política uma fórmula artificial, logo monstruosa, para resolver pelo imoralismo as dificuldades de convivência entre as criaturas. Zombam do poder Judiciário, atacam ministros e ministras, mentem a todo momento, e, afinal, achincalham o povo dos peças teatrais de quinta categoria.
Como diz o experimentado jornalista Elio Gaspari, que contou a história mais perfeita sobre o Golpe de 64: o conjunto da obra de Bolsonaro e Roberto Jefferson (PTB) mostra um país completamente abalado por teatralidades, enquanto convive com milhões de desempregados e gente passando fome.
O aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) foi autuado por atacar com fuzil e granadas os agentes que foram a Comendador Levy Gasparian, no interior do RJ, no domingo (23), para cumprir um mandado de prisão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Foi tratado como uma autoridade exatamente pelos policiais que o prenderam. Aliás, componentes de uma Polícia respeitada em todo o país.
Claro que é exemplo do homem político descrito, que é protegido pelo presidente e seus ministros. São amigos. Podem até mesmo indicar um padre Kelmon (PTB) para participar de debate e servir de mediador, como foi o caso.
Por inacreditável, é preciso que se descreva. Não é só. Na chegada dos agentes da PF, por volta das 11h, Jefferson jogou duas granadas e deu tiros de fuzil. Foram oito horas desrespeitando a ordem do STF até a rendição, às 19h. Tudo isso, claro, com apoio do governo. Bolsonaro se enrolou todo às vésperas. Disse que sequer é amigo de Jefferson e não tinha sido fotografado junto dele. Logo, logo aparecerem as fotos, até mesmo posadas dentro do Palácio. A mentira nunca teve a perna tão curta. Resultado é que a notícia repercutiu no mundo inteiro e abalou até o eleitorado de Bolsonaro.
As pessoas andam com a cabeça baixa. Sobretudo porque o ministro Guedes, boquirroto, ofereceu material para exploração política ao candidato Lula (PT), principalmente sobre desindexação do salário mínimo e possível extinção do décimo terceiro e férias do trabalhador, além do fim do ajustamento do salário mínimo pela inflação. Fake news ou não, foi motivo de tristeza na campanha do presidente e mais ainda no seio dos trabalhadores. O debate desta sexta-feira (28) vai ser decisivo. Sobretudo porque se está diante de uma quadro, em favor de Lula, mas estável seguindo as pesquisas.
Por outro lado, Casagrande (PSB), que andava morno em relação ao PT, se aproximou e puxou a corda para o seu lado. O vertiginoso bolsonarismo de Cachoeiro lhe teria causado espanto. Tratou de chamar seus aliados, investir em propaganda no município e o quadro já é outro. Há um tônus em relação a sua campanha. Ganhou vigor. Houve uma bobeada no início, achando que os bolsonaristas estavam fazendo uma simbiose entre ele e o presidente. Quando, espertamente, Manato (PL) estava furando a bolha. A recuperação começou no domingo e o quadro voltou à normalidade, inclusive nas redes sociais. Com vantagem para o governador.
A imagem de Manato em Cachoeiro é apenas uma sombra de Bolsonaro. Pouca gente o conhece. No jogo de sinuca, é como matar uma bola por tabela. Os jovens sequer ouviram falar em seu nome. Tem um caminho longo para percorrer. A onda bolsonarista que embarcou está sofrendo com a mudança dos ventos. A par disso, traz incômodos aos mais politizados.
Ora, como se tem constatado, a estátua do estadista não é forjada pelo varejo da rotina ou pela fisiologia do cotidiano. E, por isso, que se tem apurado são reuniões de pensadores, diante dos últimos acontecimentos, a fim de que se faça cumprir a Constituição que institucionalizou a democracia, como obra do homem, para afirmá-lo, defendê-lo, realizá-lo, nunca para desconhecê-lo, negá-lo, aviltá-lo, oprimi-lo.
Em apoio às candidaturas de Renato Casagrande e Lula, os signatários do documento, que farão distribuir ainda nesta semana, propugnam pelo princípio da igualdade, dentro da evolução dogmática da visão da igualdade perante a lei, da igualdade perante a concepção material e igualdade de oportunidades como concretização da ideia de justiça social.