O velho jornalista Carlos Chagas, que também foi advogado, dizia que ser político é mais ou menos como jogador futebol sem bola: os dois times entram em campo, camisas novas, chuteiras brilhando. Ouvem o apito do juiz e se lançam às carreiras desenfreadas, aos chutes e defesas espetaculares. Depois ficam esperando o resultado da partida, isto é, da soma dos votos. A bola é voto. Veja que a grande pergunta, hoje, para os extremados ou não, é se haverá segundo turno na eleição. As pesquisas, hoje inteiramente científicas, mostram o comportamento do eleitorado das diferentes categorias: Lula é favorito, mas avançando em nome do voto útil.
Podem errar? Se mudarem as contingências eleitorais. Mas o enunciado não mostra isso. Exibe que Lula tem chances de vencer o pleito apontando para encerrar a eleição no primeiro turno. Falta-lhe, o que já é muito, colocar a eleição no nível de um plebiscito: a favor ou contra a democracia. Exatamente porque Bolsonaro foi o grande erro que o voto configurou no país: extrema direita despreparada. Não que Lula não tivesse cometido erros e desacertos em seus governos, mas o povo brasileiro sofreu uma grande decepção com a direita arbitrária.
A campanha do candidato do PT foi, até agora (já no fim), mais competente, a ponto de varrer grande parte de eventuais ranços anti-petista usando as sandices bolsonarianas. Trouxe à cena - por incrível que possa parecer - a figura de Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, que gravou um vídeo no qual manifesta apoio à candidatura do ex-presidente Lula. O vídeo está em posse da campanha de Lula, que fará uso da gravação. Não esquecendo que ex-ministro chegou a ser alvo de ataques pela militância petista e representou alguns dos votos mais duros da ação penal que levou à condenação de antigos caciques do partido, como o ex-ministro José Dirceu e do ex-deputado José Genoíno.
Claro que a população tem memória e não se esquece que o ex-ministro foi uma das figuras mais populares do país. Hoje, luta pela manutenção da democracia e seu pronunciamento é duríssimo contra o presidente. A ponto de dizer que ele é uma figura "abjeta" no plano internacional. À época, se fosse candidato no lugar de Bolsonaro, teria mais votos do que ele em 2018. Queira ou não, seu depoimento e de outras figuras notáveis abrem uma porta enorme para se visualizar uma vitória de Lula no primeiro turno. O voto envergonhado tem passagem na passarela. O debate, na TV, deve consolidar o raciocínio alinhavado. Porque todo político tem seu Rubicon. Atravessa-o, e se consagra ou estaca na margem e com medo e se arrebenta.
Por fim, a derrota de Bolsonaro propiciará um a grande virada ideológica no país e seu fim política. Não possui prestígio, nem dentro das Forças Miliares, para um golpe na democracia.