Marcos sempre foi compenetrado.
Diria mais: voltado para si mesmo.
Não por arrogância. Não.
Enquanto jogávamos pelada, tinha um olhar contemplativo. Matemática? Não. Física? Não e não - o piano.
O músico, o poeta, é um contemplativo, que procura penetrar na essência das coisas e das pessoas para descobrir o seu segredo mais íntimo.
Ele se dedicou à música, e se tornou, por méritos, um dos maiores pianistas do país.
Descobriu o segredo de cada nota, cada melodia, cada acorde.
Quando desvendou a doença, fora de seu país, passamos a conversar pelos meios eletrônicos. Um momento de natural revolta. Mas, logo depois, voltou ao piano, o seu maior companheiro.
Tocar piano para ele era, irremediavelmente, um ato de amor.
Ele se despediu da gente num desses voos.
Um voo de colibri. Um pensador me disse: eu não sei se a vida é maior que a morte, mas o amor é maior que ambos.
Marcos foi amor cantado num piano.