Crônicas
As Velhas Placas
2017-10-07 00:00:00

Por Wilson Márcio Depes 

Seria saudosismo meu? Se for, é um saudosismo bom, virtuoso, e que me faz muito bem lá dentro da alma. Explico. Refiro-me àquelas pequenas placas, em madeira, que se coloca geralmente nos pontos de confluência da cidade – ponte municipal, por exemplo – indicando as farmácias de plantão. No passado, seu Zezinho as preparava, com todo cuidado, para informar, escrito em giz, os jogos do Estrela, principalmente de seu infantil. Era mais ou menos assim: “Amanhã, às 9h, em Sumaré, Infantil do Estrela x Infantil do Cachoeiro”. E o estádio ficava cheio. Mesmo com toda revolução tecnológica, meu caro leitor, essas placas em madeira, simples, toscas, ainda funcionam de forma muito efetiva. E como funcionam. Outro dia, sem celular, vinha da Ponte Municipal em direção à Praça Jerônimo Monteiro, pude constatar a farmácia que estava de plantão. Lá fui eu comprar meu antigripal. Simples. Mas, na alma, calou fundo. Lembrei-me dos colegas de Liceu. Nós íamos à pé para a aula, felizes, sorridentes, sem medo de assaltos. Lá dentro, como lembra o eterno professor Aylton Rocha Bermudes, “aos dez minutos para as dez, tocava o sinal para terminar a segunda aula e o potente alto-falante despejava no pátio imenso e sobre a entrelaçada copa das árvores, a melodia da “Aquarela do Brasil”, de “Besame Mucho”, de “Carinhoso”, “Tico-Tico no Fubá” e “Fascinação””. Enfim, sem esconder a soberba, diz ele: “alunos, professores, funcionários tinham orgulho de ser do Liceu”. Aliás, quero dizer com muita ênfase – ênfase não é a palavra certa, diria melhor... com emoção - é um dos orgulhos mais saudáveis que guardo em minha vida, o de ter sido aluno do Liceu. Seja lá o que for, me sinto feliz ao lembrar de tudo isso, nessa manhã ainda sem calor, depois de uma noite em que todas as virtudes foram negadas no noticiário de Brasília. Se faz bem à alma, por que não reviver? Não creio que serei punido por qualquer psicanalista, todos eles em busca de dias melhores para as pessoas. Aliás, para todos nós. Parei só um pouco no tempo, mas sentido o sabor dos salgados da cantina do Liceu.

“Orgulho de ter sido aluno do Liceu”.

Link da Matéria:
Revista Leia
Leia mais Crônicas
Precisa de ajuda? Entre em contato com nossa equipe de advogados
V1.0 - 0730 - © WILSON MÁRCIO DEPES ADV. - Agência PenseDMA 2022. Todos os direitos reservados.