Ando perdendo a disputa para Marilene. A crônica dela está sendo entregue, ao editor, muito na frente da minha. Não sei o que isso quer dizer, mas Regina amplia o sorriso cada vez que isso acontece. Vamos esperar. Tomara que nada de mal aconteça… Vou explicar a razão pela qual atrasei na entrega da crônica, queimando na largada. Marilene permanece incólume em primeiro lugar, diga-se.
Demorei, e tenho razão para tal, porque esperei o resultado da reparação coletiva aos povos indígenas. Explico melhor. Pela primeira vez, a Comissão de Anistia formalizou uma reparação coletiva do Estado brasileiro a dois povos indígenas por perseguição, prisões e torturas na ditadura. Já o conselho reabriu, em âmbito interno, o processo do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva, sequestrado e torturado no governo Médici.
Explico mais. A reparação coletiva foi feita na terça-feira aos indígenas Krenak, de Minas Gerais, e Guyraroká, de Mato Grosso do Sul. A imprensa divulgou que se trata de reconhecimento da comissão é simbólico e não implica no ressarcimento financeiro. É de se dizer, a rigor, que Ministério Público recorreu após as duas ações serem rejeitadas pelo colegiado em 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro. Até o ano passado, só era permitido à comissão analisar reparações individuais de vítimas da ditadura, regra do regimento que foi alterada.
Emocionante foi assistir ao pedido de perdão, em nome do Estado brasileiro: “eu quero pedir perdão por todo sofrimento que o seu povo passou. A senhora, como liderança matriarcal dos Krenak, por favor, leve o respeito, nossas homenagens e um sincero pedido de desculpas para que isso nunca mais aconteça — disse de joelhos a presidente da comissão, Eneá de Stutz, após o julgamento dos Krenak. Preciso dizer que o órgão estima que a ditadura militar brasileira causou a morte de mais de 8 mil indígenas, por ação ou omissão.
Para o escritor indígena e ativista ambiental Ailton Krenak a homenagem foi histórica e passa longe de ser simbólico. Integrante do povo Krenak, Ailton é o primeiro indígena eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL). É um reconhecimento de um erro que não pode acontecer no futuro.