Quando vejo, agora nas redes sociais, a movimentação dos pré-candidatos a prefeito, lembro-me das eleições passadas. Era menino ainda quando acompanhava os comícios festivos. Isto porque morava no centro da cidade, em frente ao Jardim de Infância, hoje Ciac. Ali corria o movimento. Parecia uma festa. Oportunidade na qual eu podia devorar algodão doce, o meu preferido. Mal sabia eu que daquela festa sairia o prefeito que iria governar minha cidade; iria cuidar da cidade de meu futuro.
Curiosamente, domingo passado li a crônica, em O Globo, de Dorrit Harazim, e tudo me deixou muito assustado. Não é possível ler a crônica sem lançar um olhar alucinante para o passado e para o futuro. Diz ela, trazendo trechos do livro “Crônicas de Nárnia”, de C.S. Lewis, cujos sete volumes venderam mais de 100 milhões de exemplares e foram adaptados para TV, cinema, teatro, videogame.
Conta que, em 1939, portanto às vésperas do conflito mundial seguinte, ele deu uma palestra na Universidade de Oxford. O tema era uma indagação: “O belo importa quando bombas começam a cair?”. “Como não”, disse ele. A matemática lhe dá razão. Historiadores já calcularam que, ao longo de toda a trajetória humana, tivemos até hoje míseros 29 anos sem que alguma guerra estivesse em curso em algum ou em vários pontos do planeta.
Ora, refletia, “para sermos aquilo que somos — num mundo que se dedica, dia e noite, a fazer com que sejamos como os outros —, é preciso embrenhar-se na luta mais árdua de nossas vidas”. Ora, conclui Dorrit, que tinha razão o poeta, visto que, para alcançar algum grau de autoconfiança, cabe a cada um construir sua ponte individual sobre o rio da vida. Ou seja, quase todo ser humano é capaz de aprender a pensar, a fazer, a saber; mas nenhum ser humano consegue ser ensinado a sentir.
O motivo? Pergunta ela. “Porque, em qualquer atividade outra que não a sensorial, somos sempre a soma de outras pessoas, enquanto no sentir somos únicos — somos só nós mesmos, verdadeiros. E é apenas a partir desse “eu” raiz, secreto e íntimo, que adquirimos coragens, selecionamos lutas, armazenamos confiança, arriscamos mudanças”. Não deixo de refletir sobre o tema.