Se não me falha a memória – que por vezes anda me traindo – Fernando Sabino – completaria 100 anos este mês – quem disse certa feita que escrever dói. Para tanto, decidiu tocar bateria nos momentos em que não estava escrevendo. Fico imaginando esses meninos e meninas que ganharam os prêmios patrocinado pela Academia Cachoeirense de Letras, no concurso Rubem Braga. O que eles sentem ao escrever sobre, por exemplo, o Rio Itapemirim?
Ano passado, na premiação, no mês de novembro, pude assistir, emocionado, à leitura feita pelos premiados. E a família estava presente. Com que emoção sorvia cada palavra. Cada gesto. Tenho certeza que Rubem Braga estaria aplaudindo não só os seus herdeiros, mas, também, a iniciativa da Academia Cachoeirense de Letras. Marilene não deixa a peteca cair. Entusiasmada, não pode conter as lágrimas que pularam em seu rosto.
O jornal O Fato, ensinando jornalismo, publicou as crônicas na edição de 31.10. Como é emocionante ler todas elas. Fico aqui pensando, em silêncio, o que esses meninos e meninas leem? Como são diferentes de outros que vivem, o dia inteiro, presos nos computadores absorvendo uma cultura, diga-se, de quinta categoria. Esses premiados – e todos aqueles e aquelas que participaram – são diferentes, traçam uma linha do mundo prenhe de emoção, sentimentos solidários, fraternais, capazes de captarem, com a palavra, o voo de uma garça do Rio Itapemirim.
Mais ou menos como Drummond: “Não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra/que nunca estará neles/ nem se pode inventar. / Que resumiria o mundo/e o substituiria. / Mais sol o que o sol, dentro da qual vivêssemos todos em comunhão, mudos”. Claro que quero cumprimentar os meninos e as meninas. Mas também a Academia, a que tenho a honra de pertencer, por essa iniciativa. Foi criada uma exigência da própria comunidade como a nossa cultura. Cultura com tantos nomes que dignificaram e honraram nossas cidade.
Que não daria eu pela memória de minhas gazetas, quando trocava, sem culpa, a aridez de uma raiz quadrada pela alegria de ler uma crônica de Rubem. Abençoado.