Claro que fiquei e estou – impactado com o escândalo dessa máfia atuando no futebol, corrompendo os jogadores para vencer as partidas ou as apostas. Seja com cartões ou mesmo expulsões e outras picardias maiores. Lembro-me que na juventude, aqui em Cachoeiro mesmo, ouvi muitas estórias – as quais não posso provar – de jogadores que eram subornados pelos cartolas. No meu livro “Fotocrônicas I” escrevi um episódio muito interessante. Vou tentar relembrar.
Essa estória quem me contou foi Sarará, o velho, que sabia tudo. Inclusive cantar à la Nelson Gonçalves. E aconteceu aqui mesmo em Cachoeiro, envolvendo dois jogadores de times conhecidos. Jogavam os dois times mais queridos, com maiores torcidas. A partida era decisiva, continua contando Arará, e seguia um nervoso zero a zero. A torcida não poupava ninguém. Xingava principalmente o juiz que nada tinha com o peixe. Grita de lá, grita de cá. Porrada corria solta em Sumaré. Nervosismo intenso. Porém, no finalzinho da partida, uma chance de ouro para um dos times: o grande artilheiro correndo, sozinho. Entra na área, já encurtando a carreira e as passadas.
O goleiro, conta Sarará, em meio a uma série de gargalhadas, embaixo das traves, quieto. Imóvel. Sentiu que, inevitavelmente, o gol seria fatal. Foi então que o atacante, entre os dentes, começou a gritar para o goleiro:
– Vem nimim. Vem nimim, que eu tô vendido!
– Não posso – gritou o goleiro -, não posso porque eu também tô.
As estórias dos jogadores de Cachoeiro eram conhecidas nos bastidores do Bar Vitória, famoso ponto de encontro de fazendeiros, políticos, cartolas, enfim, por quem queria saber dos dramas de Cachoeiro. Ah, essas histórias rolavam também nos bancos da praça, onde a rapaziada se fazia ponto até a madrugada. A saudade chega doer no peito, a se dói… Mas, me pergunto, será que mudamos tanto assim ou só sofisticamos ao deparar com os episódios de hoje, no submundo de nosso futebol? Sarará não está mais aqui para contar.