Eu me pergunto em desespero: por onde começar a reparar o elo civilizatório eficaz e primário – aquele que permite a fruição plena do ciclo humano, da infância à velhice? As meninas de Blumenau – e muitas outras – não tiveram tempo para enflorar? Sou do tempo em que fazia ginástica, no centro de nossa cidade, no Bernardino Monteiro, com professoras doces e frágeis, como dona Alvinha, dona Edneia e dona Virginia. Todos éramos felizes e o elo civilizatório nos parecia intacto. Íamos e vínhamos à pé de casa para o colégio e do colégio para casa. A escola, se me permitem, era símbolo de ambiente acolhedor associado à proteção da infância, uma escola deveria ter o direito de reivindicar o status de “solo sagrado”.
É de se lamentar. E muito. O conceito sublime, no entanto, tem se tornado cada vez mais distante no Brasil. Em menos de 10 dias, dois episódios reforçaram a tendência. No dia 27 de março, um ataque a faca cometido por aluno de 13 anos em escola estadual de São Paulo matou uma professora e feriu outras quatro pessoas, entre elas um estudante. Na quarta-feira, um homem de 25 anos matou quatro crianças, com idades entre 4 e 7 anos, a golpes de machadinha em creche particular de Blumenau (SC).
As tragédias fizeram com que a decisão de a Globo é jamais revelar a identidade dos assassinos para não dar fama. O canal ouviu de especialistas que a divulgação das agressões pode servir de estímulos a novos ataques e assim decidiu mudar sua política. Os veículos do Grupo Globo tinham há anos como política publicar apenas uma única uma vez o nome e a foto de autores de massacres como ocorrido em Blumenau. O objetivo sempre foi evitar dar fama aos assassinos para não inspirar autores de novos massacres. Essa política mudou e será ainda mais restritiva. O nome e a imagem de autores de ataques jamais serão publicados, assim como vídeos das ações. O fenômeno recente de violência escolar não tem paralelo na história brasileira. Nos últimos 20 anos, 23 atentados deixaram 34 mortos nesses locais, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz. Os dados mostram que os ataques com armas de fogo costumam ser letais: apenas em três casos não houve óbitos.
Termino me contorcendo em dores na alma.