Sempre fui um ardente admirador do nosso papa. Não posso negar isso. Lembro-me bem, como se fosse hoje, que na primeira aparição pública, o pontífice chamou a atenção pela simplicidade. Dispensou o crucifixo de ouro e a estola vermelha usada pelos antecessores. Três dias depois, ele lembrou São Francisco de Assis e disse desejar “uma Igreja pobre e para os pobres”. Faço coro com Bernardo Mello Franco. E mais: “O papa é radicalmente fiel ao Evangelho e aos ensinamentos de Jesus. Ele é uma pessoa verdadeiramente cristã. Não gosta de insígnias nem de bajulação”, elogia o padre Lancellotti, que coordena a Pastoral do Povo da Rua em São Paulo. Que trabalho belo!!!
Ele surpreendeu a Cúria ao abrir mão de mordomias e privilégios. Ao fim do conclave, fez questão de ir ao hotel onde se hospedava para buscar as malas e pagar as despesas. Há poucos meses, ele lamentou não poder mais usar o transporte público, como fazia até os tempos de cardeal. “Em Buenos Aires, eu era muito livre. Gostava de ver como as pessoas se locomoviam”, justificou.
Tenho motivos para tanta admiração? A mudança de estilo foi acompanhada por declarações contundentes contra a desigualdade. O papa não perde uma chance de condenar a concentração da riqueza. “O mercado por si só não pode resolver todos os problemas, por mais que nos façam acreditar nesse dogma da fé neoliberal”, escreveu, na encíclica “Todos irmãos”. O jornalista Bernardo recorda que “o inconformismo o transformou em alvo de setores da direita, que passaram a tratá-lo como um perigoso subversivo. Quando Francisco criticou a destruição da Amazônia e saiu em defesa dos povos indígenas, o então presidente Jair Bolsonaro resolveu provocá-lo. Disse que o papa poderia ser argentino, mas Deus era brasileiro”. Quão imbecil é esse nosso ex-presidente! Como suportamos essa figura por quatro anos? Prossigo. “Bolsonaro não foi ao Vaticano nem para a canonização de Santa Dulce dos Pobres, a primeira santa nascida no Brasil. Acho que ele não teve coragem de olhar nos olhos do Papa”, critica Lancellotti.
A defesa dos mais pobres não é a única explicação para o incômodo com Francisco. O papa também se notabilizou por posições consideradas progressistas em temas como aborto, homossexualidade, divórcio e celibato de sacerdotes. Mesmo sem revisar os dogmas da Igreja, despertou a ira de alas mais conservadoras do catolicismo. Viva sempre!!!!