Crônicas
A Copa e a lágrima
2022-11-29 15:11:15

Leonel Ximenes, jornalista de A Gazeta, pergunta por que a Copa tá tão sem emoção, sem entusiasmo, tão fria. Ainda sob os efeitos da eleição, sem pensar, respondi: as pessoas tão passando por momento difíceis em todos os sentidos. Visito comunidades nas quais vejo crianças sem o que comer. Outras, como dizia meu avô, “estão devendo o olho da cara”. A festa de abertura foi espetacular, “padrão Olimpíadas”, mas muitas pessoas “não perderam tempo em assistir”. Levando em consideração tal circunstância, todo mundo sabe que não será uma Copa barata. Os investimentos devem ser superiores a US$ 220 bilhões, mais que R$ 1 trilhão, 20 vezes acima dos gastos da Copa de 2018 na Rússia. Por isso, acho que tal circunstância agride um pouco um mundo tão cheio de mazelas, inclusive com a variante da Covid batendo em nossas portas.
Não faço o gênero saudosista. Mas, aqui pra nós, sinto saudade imensa de um drible de Garrincha, o maior exemplo de espontaneidade que vi no futebol. Zico, Rivelino, Ronaldinho, Ronaldinho Gaúcho (com todas as burradas que andou fazendo pela vida), Rivelino, Tostão, o rei Pelé, tantos e tantos outros. Certa feita me perguntaram qual a razão pela qual eu, desde novinho, gostava tanto de futebol, a ponto de ficar transmitindo uma partida inteira dentro do banheiro. Gostava porque gostava. Até mesmo de uma pelada com bola de meia.

Só mais, bem mais tarde, é que fui entender por que gostava tanto de futebol: o ser humano só é feliz quando brinca. O mestre Armando Nogueira, certa feita, ponderou comigo: a realidade do futebol é, em si, apaixonante, mas estou convencido, hoje, que a realidade invisível que o torcedor procura criar nos domínios da imaginação, essa realidade desconhecida e fantástica tem contribuído de maneira decisiva para o prestígio fascinante desse admirável esporte. Sei que, no campo dos direitos humanos, o Catar não é lugar para isso. A imprensa anunciou num certo momento que mais de 6 mil trabalhadores estrangeiros morreram no Catar. Não se sabe ao certo quantos morreram na construção dos estádios e da infraestrutura para a Copa. Mesmo assim, mando todo o amor que Isabel devotou ao vôlei e à vida, para que país possa aprender com as lições dela…

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