Confesso que esperei que a Marilene fosse
escrever, na sua última crônica, sobre Mahsa Amini, que tinha 22 anos, e foi
presa pela polícia da moralidade, em Teerã, por não estar usando o véu da forma
considerada correta, segundo as minuciosas regras impostas pela ditadura dos
aiatolás. Todo mundo sabe que Amini morreu na prisão, após ter sido espancada
pelos seus captores. Isso gerou uma grande indignação. Em várias cidades do
Irã, centenas de mulheres vêm retirando e queimando os seus véus, em protesto
contra a morte de Mahsa e a brutalidade das forças policiais. Não digo mais
nada. Vou esperar que Marilene trate do assunto, por apelo meu, pois sabe
muito... mas muito mais do tema do que qualquer de nós.
Se você acha que o assunto foge muito da
política, não penso assim. É uma boa
reflexão para o dia 2 de outubro, dia da eleição. Tenho tido uns sonhos
estranhos. Ouço Ulisses Guimarães bradando que toda invenção é triunfo da
libertação do homem. Com a roda o homem começou a libertar-se no espaço e do
tempo; com a agricultura, do nomadismo e da fome; com a medicina, da doença;
com a casa, a roupa e fogo, das intempéries, do frio e das feras; com a escola;
a ignorância; com a sociedade, da solidão; com a imprensa, da desinformação;
com a democracia, dos tiranos.
Por que ando preocupado? Porque a violência
tem sido uma tônica no dia a dia. As
pessoas estão com medo de sair à rua. Principalmente à noite. Já me perguntaram várias vezes se o eleitor
pode votar armado. Em sessão administrativa, o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) aprovou, por unanimidade, as alterações na Resolução nº 23.669
para incluir o trecho que disciplina a entrega do celular aos mesários e a
proibição do porte de arma nos locais de votação. A Resolução dispõe sobre os
Atos Gerais do processo eleitoral para Eleições 2002.
Ora, já me explico. O rico tem poder do
dinheiro, o governo o poder da burocracia para resolver seus problemas. O
pobre, aí me esclareço, possui o poder libertário do voto. A experiência me
mostrou, a essa altura, que na instância secular, a opinião pública é o juízo
final. Se o poder não é do povo, se o povo não o tem, é massa abúlica, multidão
informe e passiva, povo não é. Aí estão as peças principais a mecânica da
democracia: poder original do povo. Votemos com consciência. Sem medo.