Encontro com uma amiga que muito tempo não via. Até que nos festejos da cidade a encontrei por ocasião das homenagens recebidas. Ela não era petista, nem bolsonarista, mas votou no capitão na eleição passada. Arrependida diz que ficou muito feliz porque “os clubes de tiro vão virar bibliotecas caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja eleito em 2022”. Prometemos mais conversas, que não aconteceram ainda. Mas que vão acontecer, fatalmente. Nós dois adoramos falar sobre política. Ano de eleição, então…
Sobre o tema armas e livros, não sei por que me lembrei de uma entrevista de Camus, na qual ele narra que todas as circunstâncias da vida, obscuro ou temporariamente famoso, no cárcere da tirania ou livre para poder se expressar, o escritor pode reencontrar a sensação de uma comunidade viva que poderá justificá-lo sob a condição de ele aceitar, na medida do possível, as duas responsabilidades que enaltecem seu mister: o serviço da verdade e aquele da liberdade. Duas exigências básicas se demanda do escritor: a recusa de mentir a respeito do que sabemos e a resistência à opressão. Sendo sua vocação a de reunir o maior número de possível de homens e mulheres, ele não poderá se acomodar na mentira e na servidão.
O mesmo, por certo, não acontece com os clubes de tiro ou quem bate o recorde na liberação de armas. Ou quem ameaça a democracia no país com eventuais ameaças de golpes contra a democracia. As urnas eletrônicas foram contestadas, que eu me lembre, uma só vez aqui em nosso estado. O deputado não reeleito o fez, mas não passou de choro ridículo de derrotado, diante de todas as comprovações científicas de que as urnas eletrônicas são um orgulho de nosso país. Voltando às armas. A quantidade de armas em circulação no país aumentou depois que as autoridades facilitaram o acesso a elas. O país já atingiu a marca de mais de 1,85 milhão CACs – como são conhecidos os colecionadores, atiradores esportivos e caçadores. O afrouxamento das regras de posse e porte de armas no Brasil, feito por meio de decretos assinados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), tem consequência direta nos crimes cometidos à mão armada. A origem das armas de fogo que são apreendidas com mais frequência pelas polícias — pistolas usadas em assaltos e assassinatos — está principalmente no mercado legal. Chego a pensar, ao fim, da leitura de um romance distópico, que ler livros é proibido e, se alguém for denunciado por possui-los, será preso e terá sua casa incendiada pelos bombeiros, que assumiram esse novo papel.