Quando eu achei que pudesse curtir, com o mínimo de tranquilidade, a Bienal Rubem Braga, tão preciosamente preparada pelo prefeito Victor, pela secretária Fernanda, Lucimar e Paulinha, eis que irrompe nas telas o procurador-geral da República, Augusto Aras, protagonizando uma discussão com o colega Nívio de Freitas na tarde de terça-feira (24/5) e, depois de dizer que o colega não era digno de respeito, chegou a se levantar e partir para cima dele. Acreditem: seguranças do Ministério Público Federal correram para conter a confusão entre os procuradores e a transmissão da reunião do Conselho Superior do Ministério Público Federal no YouTube chegou a ser interrompida. O episódio correu o mundo todo.
Vergonha para nosso país. Aliás, mais uma.
O cronista Joaquim Ferreira dos Santos – aliás, um grande amigo de Rubem – nos brindou com uma crônica que pode ser invocada neste momento no qual vivemos. Diz ele que que “De vez quando, e aconteceu semana passada, o bicho pega, a insensatez desgoverna os despropósitos, a inspiração bloqueia todas as teclas do texto, e é aí que não resta outro recurso. Eu me anuncio na portaria do edifício Gravatá, na rua Barão da Torre, em Ipanema, e depois de autorizado pego o elevador até o 13ª andar. Subo um lance de escada, respiro fundo a emoção e adentro o apartamento de cobertura onde Rubem Braga – no intervalo das conversas com Vinicius, entre um uísque e outro com musas físicas e da imaginação – escreveu os fundamentos da crônica brasileira”.
Dentre outros remédios para a situação que vivemos, diz ele que “a minha farmacopeia é ainda mais básica. Contra a praga que nos estraga, em busca da leveza que inspira e o cronista consagra, eu caminho meia dúzia de quarteirões e vou até a cobertura de Rubem Braga. Ela está bem conservada, ainda mais bonita com os carinhos femininos de sua atual moradora, Maria do Carmo, a nora do cronista. (...) Há quem vá à Meca, quem suba os degraus da Penha. Eu respiro fundo na cobertura do velho cronista. É uma espécie de fazenda no ar, um jardim voador sobre Ipanema, e estão por ali as novas gerações de tico-tico trazendo no bico a folhinha seca de capim para o ninho na touceira de samambaia. Pouco depois chega matreiro um pássaro preto, desses que chamam de chopim, e ele não traz nada no bico, dá apenas uma olhada em como o tico-tico constrói o ninho”.
Nós, cachoeirenses, temos a nossa farmacopeia própria. Vamos à Bienal Rubem Braga. E fica o convite, Joaquim. Se não vier nessa, venha para a próxima.