Crônicas
Pacote da “destruição"
2022-08-22 17:46:17

Em muitos momentos, a notícia se transforma em crônica. Com tudo que está acontecendo, e que já é demais, acredito que a inspiração está intoxicada. Estou me sentindo como há muitos anos atrás, quando os estudantes também iam para as ruas para protestar. É um ato político, mas não é um ato político-eleitoral. Caetano Veloso liderou nesta quarta-feira (9) uma manifestação em frente ao Congresso em Brasília contra a política ambiental de Jair Bolsonaro, no momento em que deputados aliados ao presidente estão analisando diversos projetos polêmicos, que afetam em especial as terras indígenas.
   Na estratégica Esplanada dos Ministérios, vários artistas liderados por Caetano Veloso, a cantora Daniela Mercury, seu Jorge, o rapper Emicida, dentre tantos, junto com centenas de organizações da sociedade civil e representantes indígenas, protestaram contra o chamado “pacote de destruição”, referindo-se a vários projetos que poderão ser votados nos próximos meses e são considerados prejudiciais ao meio ambiente.
   Caetano leu antes uma carta diante do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a quem pediu que “nenhuma proposta seja colocada em votação até que esteja alinhada com o que diz a ciência”. “O dia de hoje marca uma mobilização inédita que une artistas e duas centenas de organizações da sociedade civil”, disse Caetano, que encerrou seu discurso no Congresso cantando o refrão de sua música “Terra”, enquanto todo o salão o acompanhava. Chico Buarque, que está se recuperando de uma cirurgia, falou por vídeo-chamada: “Ninguém é contra o agronegócio em si, mas sim contra os lucros desenfreados.”
   A carta, é preciso que se reflita sem preconceito político-ideológico, adverte que, se aprovadas, as iniciativas do pacote podem causar “prejuízos irreversíveis” e “perenizar este quadro de retrocessos socioambientais” refletido no desmatamento descontrolado da Amazônia, “a violência contra os indígenas e outros povos tradicionais” e a credibilidade “arrasada” do país. Claro que a situação é muito delicada neste momento político, onde tudo é motivo para desencadear processos de discussão acalorada, mas a reinvindicação possui um ponto de equilíbrio: o que se pede é que os projetos passem pelo crivo da ciência, sem o ranço de ser contra ou a favor do agronegócio. Claro, portanto, que a reivindicação precisa ser analisada sem frêmitos de violência ou de sectarismo partidário porque não se trata de campanha eleitoral. Mas discussão racional e adequada. Respeitemos.

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