Crônicas
Uma tristeza de final de ano
2022-08-22 17:44:55

Claro que esses dias de descanso serviram para algumas reflexões. Não todas que eu precisava. Uma delas, confesso, é o reencontro pleno como o mar e a conclusão, definitiva, de como ele é o melhor remédio par minha alma, para minha saúde como um todo. O mar, como dizia Camus, me antecede e me precede. Pois bem. Mas eu saí do ano de 2021 me devendo um artigo que venho me cobrando desde a morte do então reitor de Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier, investigado e preso antes mesmo de se iniciar qualquer julgamento pela Justiça. O caso foi recentemente visitado, com plena lucidez, pelo ex-ministro e hoje advogado Celso Asfor, pela revista Veja e pelo colunista Elio Gaspari. As atrocidades cometidas restaram ainda mais destacadas quando postas em contraste com a ambiência de fraternidade e harmonia que os espíritos desarmados vivenciaram no período natalino. Relembra o Ministro que acusado de participar de um cogitado e infundado desvio de R$ 80 milhões na instituição que dirigia, o reitor sofreu severas humilhações, foi acorrentado, submetido a revista íntima, ficou preso por 30 dias em cela de segurança máxima e foi proibido de botar os pés na universidade. Vítima do Estado que o devia proteger, Cancellier, em extremado desespero, acabou se jogando do sétimo andar de um shopping, em 2017. Até hoje relembro desse caso quando vou defender alguém acusado injustamente. E me emociono. Mas nunca consegui escrever nada que me agradasse. E a lembrança me trouxe o caso neste Natal e no início de ano. Triste. E por isso escrevo agora, pelas mãos do ex-Ministro.
Afinal, toda essa tragédia precisa ser permanentemente relembrada por oferecer uma valiosa e triste oportunidade de refletirmos sobre o desespero de um inocente que veio a pôr fim à sua própria vida, depois de sofrer a desgraça de ter a sua honra aguda e injustamente destroçada, revelando o que pode acontecer a uma pessoa quando a democracia e seus freios deixam de existir para ela. Ao contrário do justiçamento, o remédio para a impunidade só pode ser ministrado pelos poderes da República. Cabe a eles e somente a eles debaterem em seus plenários e com a sociedade um conjunto de medidas que deem à justiça mais celeridade e efetividade.
É o que exige a democracia! Quanto mais o assunto for procrastinado, mais brasileiros entrarão no corredor polonês dos justiceiros de plantão enquanto outros continuarão escapando sorrateiramente pela porta dos fundos. E preciso estar atento para sempre perceber que o mal que tirou a vida do reitor não foi debelado e ainda circula entre nós como um vírus letal em um ambiente tenebroso.

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