De tudo fica um pouco...
2022-08-22 17:28:05
Peço licença ao leitor para dividir esta crônica em alguns assuntos. O mês de junho foi abundante em notícias. A primeira delas toca mais ao coração, como diria o professor Deusdedit, que, aliás, fez falta num desfile escolar imaginário que pretende não sair do pensamento. A festa de Cachoeiro, criação do poeta Newton Braga, é mesmo fruto de uma sensibilidade delicadíssima. Sem ela, fica um vácuo, um vazio que só pode ser preenchido com algumas lágrimas e muita saudade. A grande sacada do poeta foi, como dizia Jaime Lerner, a ideia de que a festa seria o encontro. Melhor dizendo: o reencontro. Entre o cachoeirense ausente e o presente. Lerner definia urbanismo como o encontro, os pontos de encontro. Só assim se humaniza a cidade. Sem festa ficou o vazio. Repetindo Rubem, “então tudo ficou vazio. Não, não é isto, era mesmo muito mais grave ainda: tudo era vazio; apenas o que aconteceu foi que a dolorosa, a insuportável consciência disso ficou tão nítida que paralisou o homem”.
Mudo de assunto. O país ficou muito mais pobre com a morte de Artur Xexéo.
A CPI da Covid foi, abertamente, o grande golpe que a Oposição aplicou nas aspirações do presidente Bolsonaro em buscar a reeleição. A ponto de receber a denominação de “Covaxingate”. O presidente, que sempre se achou acima do bem e do mal, está sendo desmascarado e mostra todas suas faces de um político medíocre, que sempre foi, agora acusado fortemente de corrupção. Os fatos estão acima de qualquer paixão que ainda se nutra pelo “mito”. Fico imaginando, dentre tantos pensamentos, como uma pessoa pode receber propina de vacinas que vêm salvando vidas? Isso é mais que repugnante. Os xingamentos e impropérios de Bolsonaro, principalmente contra as mulheres, não conseguem mais esconder o mar de lama no qual chafurdou seu governo. Seus colegas de tempo de caserna diziam, referindo a ele, “o cavalão perdeu as estribeiras”. Vamos aguardar os próximos capítulos.
Uma coisa me chama a atenção. Quanto mais se defende, com assessores medíocres, piora a situação. Esqueceram de consultar a lição deixada por Millôr Fernandes: “Jamais diga uma mentira que não possa provar”. Disseram e não conseguem provar.
Muitas perguntas fazem os amigos: “Vai ter impeachment?” “Ele consegue sair dessa?” “Haverá golpe militar?”. Hoje, a pesquisa diz que ele perderia a eleição para o seu principal adversário: Lula. As outras indagações ficam por conta do tempo. Em política, tudo muda. Não se tira o sapato antes de chegar ao rio. Mas também ninguém chega ao Rubicão para pescar, diria o velho Tancredo Neves.