Na busca do ser humano pela retomada da alegria, um pouco de paz, ou até de um sorriso, nessa luta implacável contra os males da pandemia, tenho observado – até mesmo nas redes sociais – um giro ao passado. Fico curioso com isso. Diria mais: comovido. Claro que existem os que, normalmente, preservam a memória de sua cidade, de seu estado, de seu país. Guardam fotos, recortes de jornais, revistas. Aliás, a “Casa de Memória” de Cachoeiro – concebida para isso – foi uma ideia que tomou forma em Curitiba. Jaime Lerner ofereceu seus projetos para nós, na qualidade de urbanista mais famoso do Brasil. Pois bem. Abro as páginas da redes sociais e vejo lá as postagens: uma foto do antigo Jardim da Infância; outra foto da antiga praça Jerônimo Monteiro; dos antigos craques do futebol de Cachoeiro e por aí vai. Uma hora me deparo com Jurandir, outra, lá está Sarará, o “velho” e “o novo”, Rafael Santana, Pedrinho Pitanga. Viajo com as estórias. Elas fazem bem, compensando a tristeza provocada pela tragédia do vírus. Chego até, num exagero, a tocá-las com um gesto de carinho.
Outro dia me deparei com uma foto bem antiga do Jardim de Infância (hoje, Ciac). Retrato de minha infância. Aqui pra nós, não creio que haja nome mais apropriado do que este: “jardim de infância”. É a síntese da saudade. Em condições normais, infância é mesmo um jardim, florido, as flores nascendo, crescendo, sem nunca perder o fulgor. Se me lembro bem, Thiago de Mello dizia que “Na roda do mundo/lá vai o menino. / O mundo é tão grande/e os homens tão sós. De pena, o menino/começa a cantar. /Cantigas afastam/ as coisas escuras”. Talvez eu pudesse dizer que as lembranças postadas, traduzidas em fotos antigas, seja o melhor remédio que encontrei para afastar as coisas tristes.
Claro que a ideia não tem nada de original. Beira o saudosismo. Mas, pelo menos, não falei de internações ou mortes por Covid-19. Ou, como o velho Braga, deu uma vontade enorme de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo…