O Brasil é hoje o epicentro mundial da Covid 19, com a maior média móvel de novos casos. Não é preciso ter lido Arend para se constatar, de forma definitiva, que vivemos tempos mais que sombrios, onde as piores pessoas estão perdendo o medo e as melhores, sem dúvida, a cada dia perdem a esperança. A velocidade da pandemia no Brasil, desde março de 2020, atingiu, no dia em que escrevo esta crônica (quinta-feira), a casa dos 301.087 mortes. Tudo isso como decorrência, pela teimosia monstruosa de ignorar a ciência. O Brasil elegeu um presidente sem a menor possibilidade comandar um país, que trata o ser humano como um instrumento de suas ambições políticas. A minha avó dizia que castigo vem a cavalo. Linguagem antiga, mas que perdeu apenas a sua atualidade no sentido técnico. Olhando apenas pelo lado político, o presidente já está submergindo completamente em relação ao apoio de seus parceiros de uma aventura dantesca. O Centrão, que é sua base de apoio no Congresso, é muito mais hábil do que ele. Está pulando de um navio que afunda diante da perplexidade e da dor do povo brasileiro. Na hora da eleição não terá ninguém para justificar o quadro dramático da morte dos brasileiros atingidos pela pandemia. Negou-se a vacina, o assunto foi tratado com a irreverência de “uma gripezinha”, a doença foi cuidada com medicamentos que só agravaram a situação do doente, tudo isso debaixo de uma retórica tosca, sem qualquer amparo na dialética e muito menos na ciência. Bolsonaro zombou do discernimento do povo brasileiro, empolgado por uma vitória massacrante nas eleições. Hoje se vê um homem com medo da população, mas que teima em “tratamentos preventivos”. Tenho pensado muito na história futura. O que ela vai dizer do que estamos passando hoje, dramaticamente. Se digo perplexo com a situação, é porque ainda vejo setores bolsonaristas, como na Câmara de Cachoeiro, adotando comportamentos extraídos do que há de mais perverso no Brasil de hoje: a lógica de Bolsonoro. Como na “Carta aberta aos brasileiros” – o país exige respeito; a vida necessita da ciência e do bom governo. Estou em oração permanente.