Crônicas
Poderoso Chefão
2022-08-22 17:14:40

A sociedade, de um modo geral, se sente bem e protegida quando a Justiça funciona com a qualidade do que está em conformidade com o que é direito. Lembro-me que, ainda bem jovem, minha mãe, a pretexto de trazer ânimo a quem se achava injustiçado, dizia sempre, como seu ar bondoso, mas sábio, “a história ainda há de fazer-lhe justiça”. Acho que a nossa profissão de advogado tem muito disso, mesmo que de forma inconsciente. Ainda estudante ficava me perguntando – e me perguntei muitas vezes – por que aquele pai foi buscar justiça com o “Poderoso Chefão”, chefe da família Corleone, quando viu o estuprador de sua filha, solto por ter pago fiança, passar diante de si com ar de deboche. (Peço desculpas por falhas na narração simplificada dos fatos). Mário Puzzo, autor da trama, naquele momento não falava só dos fatos, ele se pôs a mostrar as entranhas do processo civilizatório, ou seja, como um gangster se transforma em respeitável empresário, sem jamais descurar de seu papel de bonus pater famílias. Lamentavelmente, naquela ocasião, foi fazer justiça que a justiça não fez. Matou o jovem que houvera estuprado sua única filha. O livro e o filme seguem em três etapas. Na última, um dos filhos de Don Corleone, vai para Nova York tentar legitimar os negócios que a família houvera acumulado, com lavagem de dinheiro acumulado durante anos de criminalidade. E esse processo, lamentavelmente, só é possível com a participação do Estado. São compra de títulos de nobreza, cartas-patentes, livre trânsito na sociedade, milhares de salvos condutos que se consegue no seio da sociedade. A Globo anunciou, para os próximos dias, a série Dr. Castor de Andrade, um bicheiro que se tornou uma das pessoas mais poderosas do Rio, inclusive, lavando dinheiro, conseguiu levar o Bangu a ser campeão do então Estado da Guanabara. Por que estou lembrando de tudo isso? Digo. Porque outro dia, quando ainda no trânsito, fui abordado por um jornalista sobre a decisão do Juiz eleitoral de Cachoeiro. Embora, com muita pressa, disse logo, em contato rápido com os fatos: em princípio, a decisão me parece adequada, porque além de competente, ele é justo. Fui para o escritório e logo constatei o acerto da decisão. Voltei aos meus tempos de estudante em busca do Direito e constatei a presença de um velho sonho: temos uma justiça eleitoral justa em Cachoeiro! Provavelmente não teremos filme sobre ela. Quem sabe sobre alguém para contar sua história.

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