Wilson Márcio Depes
Acho que sou pessimista. Mas isso, a essa altura, é irrelevante. Fico estarrecido com as fanfarrices bolsonaristas de que o isolamento social poderia ser suspenso por um édito presidencial. São, felizmente, cada vez mais risíveis, porque, além de sua impossibilidade objetiva — seria revogado no Legislativo e Judiciário, por não se basearem fundamentos técnicos e científicos conforme exige a lei. Pessoalmente, sei que receberei todas as críticas, mas não me convenci ainda do acerto da medida tomada pelos governadores que começam a executar planos de saída do isolamento social. A evolução da epidemia permite? Ora, não há um “Dia D” para o fim de quarentenas e bloqueios exigidos para conter a disseminação de vírus quando não há vacinas e medicamentos adequados disponíveis. Nunca pensei que fosse concordar com O Globo. Mas não posso concordar com o presidente, na linha do que deve determinar o fim do isolamento são as carências da economia, sem entender que uma tragédia de grandes proporções na saúde pública, com enormes repercussões na sociedade, agravará muito mais a situação da economia, com uma retração ainda maior do consumidor e fuga de investidores. Mais agonia. O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, deu quarta-feira, afinal, sua primeira entrevista coletiva. Nada apresentou de concreto, sinal de que seu plano ainda não está concluído. Há variáveis-chave no painel de controle do fim de um isolamento. Além, por óbvio, da evolução da contaminação em si, é crucial acompanhar os índices de ocupação de leitos de UTI na rede de saúde pública, a disponibilidade de testes e outros itens de protocolos. Claro que, por óbvio, não tenho conhecimento científico para tal afirmação, mas de que valeu eu ficar todo esse tempo ouvindo explicações dos melhores infectologistas do país?
Afinal, encerro, os estados começaram a anunciar a saída do distanciamento social. Alguns com mais planejamento, outros com menos, mas em todos os casos talvez seja cedo demais, porque o Brasil continua subindo o Everest. O coronavírus não nos deu trégua ainda. Os estados começam a relaxar o isolamento, e o governo faz planos para depois da pandemia, mas o país ainda não venceu o vírus. Meu Deus!
