Wilson Márcio Depes
Como livre pensador, fico me perguntando, em meio a essa avalanche de informações dramáticas, se é lógico ou minimamente razoável que o Presidente da República possa se comportar do jeito que vem fazendo? A única coisa que produz, a não ser para os fanáticos, é trazer, para todo mundo, inclusive seus assessores, um clima de completa intranquilidade e insegurança. Ora, o número de brasileiros diagnosticados com o novo coronavírus subiu (estou escrevendo na quinta-feira) para 15.927, e o total de mortes já atinge a marca de 800, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde. Nessa situação não se pode admitir, contrário a tudo e a todos, que se possa relaxar em relação ao isolamento? No momento em que se debate, cientificamente, os efeitos do cloroquina, o presidente, numa retórica tortuosa, utiliza os canais de televisão, em rede oficial, para afirmar a descoberta do remédio para a solução da pandemia. Sem dúvida que é um vendedor de ilusões, segundo as maiores autoridades mundiais da ciência. A prova de que momentaneamente a retórica moderada, como fez na quarta-feira, nem sempre reflete posições sensatas, é levar para um pronunciamento oficial à Nação a ideia de que a cloroquina pode salvar milhares de vidas. Mais uma vez, na ânsia de provar que realmente é o chefe da nação, ele interfere na condução da política de saúde pública ditada pelos organismos internacionais, seguida pelo Ministério da Saúde. Ora, o pouco que sei, modestamente, é que há um consenso de que o uso da cloroquina em casos graves nos hospitais é permitido, mesmo sem confirmação científica. Como todos estão usando a cloroquina, fica difícil saber o alcance de sua eficiência, pois pode ser acompanhada de vários outros medicamentos, e em diversas dosagens. O importante é que não é possível ainda anunciar a cloroquina como o caminho para a cura. É uma irresponsável tentativa de levar à opinião pública uma solução que não existe. Confesso, sem qualquer paixão política, que absolutamente não há a mínima clareza para o presidente do que nos espera pela frente, se compararmos nosso quadro atual com o dos países que já passaram, aparentemente, pelo pico da crise. Ao afirmar na televisão que a cloroquina pode salvar milhares de vidas, se está jogando um lance perigoso. Vendendo ilusões, pretende aparecer como o salvador da pátria