A primeira casa em Cachoeiro de Itapemirim foi de Manoel de Jesus Lacerda, no ano de 1846. Depois, foram surgindo as primeiras casas comerciais no centro da Vila próxima à antiga matriz do Senhor dos Passos. Bem, mas se tudo começou aí, Newton e Rubem Braga têm razão: são outras as águas, são sempre outras águas: o rio é o mesmo. Acrescento: o cachoeirense também. - Acorda, meu filho, o rio transbordou. A tragédia começara. Daí pra frente foi só horror. A impotência diante das águas. Sempre tem um, um não, vários, alarmantes. Caiu uma tromba d’água no Caparaó. Outra em Castelo. A represa de Alegre foi aberta. Uma melodia cruel. Contar, para vocês, o que se passou não é fácil. “Cenário de pós-guerra”, anuncia o prefeito Victor Coelho. Como homem público passei por muitas catástrofes aqui em Cachoeiro, desde 1971. Os desalojados tinham como abrigo o Ginásio Municipal de Esportes. Mas, confesso, como essa tragédia que estamos vivendo, nunca vi nada igual em minha cidade. Sérgio Bermudes, domingo passado, me liga, chorando, perguntou: “O que está acontecendo com nossa gente? Vejo aqui nas fotos e vídeos casas destruídas, pessoas sem lar, o rio Itapemirim que povoou todos os meus sonhos de infância...”. Ponto. Fez uma doação para aliviar um pouco a dor dos conterrâneos, na certeza de que seu gesto seria igual ao dos outros cachoeirenses”. Dito isso, me resta balbuciar, como de fora uma oração: - Rio e gente: uma só pessoa e um só tempo, numa convivência que comove e fascina. E as ruinas de hoje? ... A natureza às vezes, cruelmente, copia o homem na fúria de destruir. Não sei pra que tanta pressa na hora de destruir. No entanto, cantemos, e cantemos muito, pela reconstrução, pelos que sofreram e sofrem com as águas do Itapemirim. Dai-lhes, senhor, ó Deus, a alegria do outro dia, a felicidade colhida no suor de cada rosto que revigora. Dai-lhe forças, sem mágoas. No amor e na fraternidade. Amém.