Crônicas
Um país com a cara da Leia
2022-08-22 16:11:51

Wilson Márcio Depes

Enquanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, se enrola com a subida do dólar, freia as reformas com medo de protestos e lamentavelmente se apropria do AI-5 para amedrontar supostos protestos, eu, aqui nesta terra de Rubem e Newton Braga, vou tentando entender como as coisas mais simples fazem muito sucesso. Escrevi, semana passada, antes mesmo da edição comemorativa dos 10 anos desta Leia, sobre o seu brilho, num mundo cada dia mais on line. É um sucesso empresarial que pode servir de exemplo, assim como o Flamengo, em níveis muito mais profundos, para o nosso Brasil tão desesperadoramente ambíguo. Lembrei agora de uma senhora que sempre morou em Cachoeiro, aqui nasceu e viveu até os 40 anos, que, de repente, os filhos a levaram para o Rio. Um dia eu a encontrei, em Copacabana, muito triste. Perguntei o que se passava. Ela me disse: “Quero voltar para Cachoeiro. Não quero viver aqui. O céu aqui é muito baixo. Quero voltar para minha terra, lá estou sempre alegre, todos são alegres. O céu lá é alto”. Era o mesmo espírito de Newton e Rubem Braga. Acho que o sucesso de Leia tem o mesmo sentido e espírito. Soluções simples: alguns dias na semana de preparo e um final de semana com as pessoas folheando suas páginas. E o empresário, dono da revista, feliz com seu negócio. Quer coisa mais importante que isso? Nem precisa de AI 5. Ontem, por exemplo, combinei com o seu neto Rafael, que iria entrevistar o Osmar Rosa para meu livro Fotocrônicas 3, por todos os seus méritos. À noite, porém, recebi um telefonema que ele havia falecido. A última vez que nos encontramos, ele deixou a última lição: “Wilson, recebi uma homenagem tão bonita do prefeito e de minha cidade, que nem velho me sinto mais. Se não houvesse espelho, nem amigo de infância a gente não envelhecia nunca”. Leia, por certo, sem qualquer preconceito, haverá de publicar uma matéria com ele que, afinal, foi um sinônimo de generosidade por toda vida. Soluções simples, como a da Leia ou com a cara de seu Osmar, numa terra onde o céu é mais alto, poderá fazer o país mais feliz. Disso, a essa altura de minha vida, não tenho mais dúvida.

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