Menino nada Maluquinho...
2022-08-22 16:06:18
Wilson Márcio Depes
Nunca me esqueço dos resmungos do velho Braga: “Os dezembros vêm passando muito depressa!”. É um amigo que morre aqui, outro que fica doente lá, quando se vê aquele menino que você conheceu brincando no colo da mãe, já está atendendo no Hospital, como médico ou já terminou o doutorado. Conversava outro dia como o Wagner Medeiros, diretor do Evangélico, que, por sinal, é um ótimo papo, sobre a educação no país e ele, que veio de Niterói, está assustado como nível dos alunos hoje. Lembrei a ele, que no Grupo Escolar Bernardino Monteiro, onde fiz todo o meu primário, recebíamos aulas de “leitura silenciosa”. Dona Hilda Mancini e Dona Verônica punham seus alunos para ler, belos textos, durante duas horas. Ninguém piava. E depois, cada um interpretava o que tinha lido. Tenho saudade até mesmo – vejam vocês – dos puxões de orelha que a bravura de dona Verônica se permitia quando algum dos alunos interrompia a leitura, que era silente. Vejo agora aqui, ao escrever esta crônica, perfeitamente, a sua imagem guardada na memória e no coração. Até mesmo os seus cacoetes. Fico a dizer, pra mim mesmo, como a memória pode ser tão rica, tão poderosa, tão seletiva. Como numa associação de ideias me lembrei também do único dia que fiquei de castigo depois da aula, por ter feito uma desordem qualquer. Dona Jacy Azevedo Lopes, tia do César, me deixou 15 minutos de castigo depois da aula, com a maior rigidez. Olho aqui de dentro de meu escritório e vejo a casa onde ela morou, casada com Dr. Osires. Depois de muitos anos, ele, meu professor de Direito Civil – talvez o maior conhecedor da matéria em todo o estado – me deu 10 numa prova que mal me preparava. Disse que aquilo era resultado do castigo da dona Jacy, que, sobretudo, me ensinou a disciplina nos estudos. Mas isso faz tanto tempo... Fico pensando se algum aluno ainda fica de castigo após a aula. E me acho tolo, idiota, ingênuo, ultrapassado. Mas como posso me livrar de tais lembranças se elas vem normalmente, como se eu abrisse uma torneira da pia liberando a água do inconsciente. Mas são boas recordações e me fazem feliz neste dia. Basta.