Crônicas
A torcida do Estrela
2022-08-22 16:05:49

Wilson Márcio Depes

Uma das coisas que mais me deixam impressionado, aqui em Cachoeiro, é o amor fervoroso que o torcedor tem pelo seu time. Cito, como exemplo, o caso do Estrela. É só anunciar que o time vai jogar, mesmo que seja amistoso, a torcida lota o estádio de Sumaré. Mesmo que não esteja bem na tabela de campeonatos estaduais. Essa fidelidade me comove e me emociona. Fico me perguntando: de onde vem isso? Será o espírito bairrista do cachoeirense? Sobre o tema, no meu livro Fotocrônicas 2, curiosamente entrevistei alguns cachoeirenses sobre esse misterioso bairrismo que nos fez chegar a ser a capital secreta do mundo. Claro que Rubem e Newton Braga têm muito a ver com isso. Querem ver? Outro dia mesmo recebi um WathsApp do Sérgio Bermudes, que viajava ao exterior, a propósito de uma postagem minha sobre o pé de jenipapo que me aqueceu durante toda a infância, ao lado do Jardim de Infância (hoje Ciac). Eu dizia, com o mesmo bairrismo contagiante, que foi o jenipapeiro quem inventou os pássaros e a brisa de minha rua, além dessa saudade que quer me matar. Vem o Sérgio de lá, em pleno voo, e diz: “por que, na música feita famosa, na voz de Roberto Carlos, o Raul Sampaio substituiu o original autêntico, ‘o meu bom jenipapeiro/ bem no meio do terreiro/dando sombra no quintal’, por um postiço ‘meu flamboyant na primavera/ que bonito que ele era dando sombra no quintal?’. Senti-me como aquela família do interior que, algo constrangido, recebe o filho janota chegando da cidade grande, arrotando grandeza, empertigado que só ele’”. Mas, voltando ao Estrela, estádio no qual passei parte de minha infância no time de seu Zezinho, posso usar, por comparação, a frase de Newton Braga, que revelou que se Deus lhe mandasse escolher uma cidade para morar, no mundo, por certo ele escolheria Cachoeiro. O mesmo aconteceria com o torcedor do Estrela em relação a seu time. Por quê? Sabe-se lá o porquê das coisas do coração. A mim, pobre mortal, já bastaria a saudade de não poder assistir aos garotos do seu Zezinho correndo atrás da bola, no Sumaré, com o vigor sábio “de quem não der tudo não deu nada”.

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