Quando não há horizontes...
2022-08-22 16:05:31
Wilson Márcio Depes
Encontro com um velho amigo que há algum tempo fixou residência em Marataízes. O papo foi rápido, pois o calor era muito e ele já queria retornar para a praia. Cachoeiro, hoje, é apenas uma recordação do passado. Quando muito vem buscar médicos para cuidar de um ou outro mal estar. A vida tranquila, para ele, com o sol e a brisa do mar, não causa problemas de saúde. Quis puxar um assunto sobre a Amazônia, mas ele, com a categoria de sempre, foi definitivo: quando não há horizontes, a sensação é de naufrágio, que, aliás, se define mesmo como a perda do horizonte. Não quis dá o braço a torcer, como diria minha mãe. Só fui entender o seu desencanto mais tarde, quando parei para refletir. Pensei, como Antonio Callado: está na hora de abrir um bar. Lembrei-me, a propósito, da década de 70, quando reunimos, no jornal O Momento, o que havia de mais expressivo na juventude cachoeirense para fazer um jornal. Em casos como essa frase aqui citada pelo amigo, fazíamos o seguinte: recolhíamos as coisas belas que líamos e, depois, transcrevíamos com um comentário. Título da coluna: “O que eles disseram e nós comentamos”. Lembro-me também que tínhamos uma coluna de consumo, com perguntas e respostas rápidas. A primeira pergunta era: “Você sabe o que está fazendo?”. Claro que por trás disso tudo existia uma luta contra a censura, a ditadura militar, e vários de nossos colaboradores, garotos na faixa de 18 a 19 anos, foram molestados pelos órgãos da repressão. Mas fizemos muito sucesso, a ponto de vereadores davam suporte ao partido do Governo, tentarem fechar o jornal, já que o mesmo era Oficial. Publicamos um Órgão Oficial, com leis e decretos, e o jornal. O Órgão Oficial vinha encartado no jornal. Tenho saudades. Os meninos logo foram contratos pelos jornais de Vitória; uns ficaram por aqui, em A Gazeta, A Tribuna; outros, foram pra grande imprensa, como Folha de São Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, além da TV Cultura de São Paulo. São histórias muito interessantes que, um dia, talvez tem há tempo para contar.