Gosto muito e já repeti algumas vezes aqui nesta coluna uma frase de Gabriel García Márquez, que extraí do livro “Cem Anos de Solidão”: “A vida não é a que a gente viveu e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la.”. Tenho por hábito – há algum tempo – ouvir o programa de Maurício Prattes na rádio Tribuna, aos domingos, geralmente quando estou na estrada (quando estou em casa também). Se não me falha a memória o título é: “As músicas que gostamos de ouvir”. É uma seleção primorosa de músicas que realmente gostamos de ouvir. Sem preconceito, tem de tudo, com o máximo de bom gosto. Maurício é um amigo que acompanho desde a Rádio Cachoeiro, onde ele apresentava o programa “A Juventude Comanda”. E a Rádio Cachoeiro, naquela época, era uma espécie de TV Globo de nossa cidade. Todo mundo ouvia. Maurício passou a trabalhar na Itabira Agro Industrial, e a rádio ficou pra trás, mas as músicas não. Nem o seu bom gosto. Foi pra Vitória. Faz hoje uma coluna diária no jornal A Tribuna. Jornalista profissional muito bem informado. Maurício é um ser de hábito curiosos. Na adolescência frequentava todos os dias os nossos cinemas – que eram muito melhores que os de Vitória – e, depois, antes de dormir, passava no “Rei das Vitaminas” - lanchonete que está de pé até hoje - e tomava uma vitamina de abacate. Daí, ia pra casa, e dormia o sono dos justos. Naquele época o mundo era melhor, desculpe o saudosismo. Mas o que há de verdadeiro é que Maurício luta bravamente para mantê-lo assim – seja com suas músicas, com sua coluna ou preservando as amizades. Cachoeiro, como Newton Braga, é o seu mundo. Nunca deixou dissipar suas raízes. Sua vida não tem nada a ver com a decadência no ar; baixaria, memes sobre dependência química, falta de compaixão, falta de compaixão com o avô que perde o neto. E resiste e não quer dar adeus à nossa época, época na qual acreditávamos nas ideias e na capacidade delas mudarem o mundo. Junto com a solidariedade. Cachoeiro está devendo uma homenagem a Maurício.