Wilson Márcio Depes
Chega o mês de dezembro e bate uma saudade – não sei ainda a causa – de fatos acontecidos no passado. Lembro deles, assim do nada, como se tivesse acontecendo hoje. Outro dia, na solenidade da Academia Cachoeirense de Letras, no Liceu, passou pela minha cabeça – e no meu coração – imagens claras, nítidas, de Catiquinha, inspetor do Liceu, flagrando os alunos fumando no banheiro do colégio. Com sorriso irônico, os levava até a diretoria para fixar a suspensão que era, mais ou menos, de três dias. Ponto. Coincidência ou não, no dia seguinte recebo um telefonema do Sérgio Bermudes me pedindo uma foto do Liceu. Não, não quero acreditar, como dizia Almeida Garrett – que conhecemos coincidentemente com o professor Aylton Bermudes -, que “a saudade, gosto amargo de infelizes...”. Penso que é muito mais alegria por ter vivido momentos tão ricos em beleza e regozijo. Um pouco mais moderno, prefiro Madre Teresa quando descreve que a alegria é uma rede de amor com a qual você pode pegar almas. Acho, então, que a Madre soube definir o que sentimos no Liceu quando vamos lá, exatamente essa rede de amor. No dia seguinte à solenidade, fui ao Tribunal de Justiça fazer uma sustentação oral e lá encontrei um desembargador que lembrou muito das palestras que o professor Wilson Rezende anunciava ao início de cada aula. Bom orador, historiador, nos encantava e, verdade ou não, era uma espécie de análise psicanalítica incentivando todos nós não só a estudar como a servir ao país. Naqueles tempos não havia essa estéril discussão sobre “Escola Sem Partido”. Cada professor ou professora ministrava a sua aula, com ou sem ideologia, sobretudo com amor aos seus alunos, que acabaram sendo muito felizes. Talvez os velhos e novos políticos possam vir até aqui para revolver a história no Liceu para saber qual a melhor fórmula de ensinar e criar pessoas, sobretudo, mais felizes. Claro que a Madre Tereza tem razão. O Liceu sempre foi uma rede de amor para pegar almas.
Crônica Revista Leia - Publicada em 08/12/2018