Wilson Márcio Depes
A memória é implacável em todos os sentidos. Sempre me lembro, a propósito, de Gabriel Garcia Marquez quando disse que a vida não é a que a gente viveu e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la. Quando passo pela Praça de Fátima, que reformulamos totalmente quando era secretário de Planejamento da Prefeitura, na década de 80, que alguns sectários não queriam, de jeito algum, permitir que assim o fizesse. Eram pessoas que detestavam Ferraço e mexer na Praça – lembro-me bem – era “colocar azeitona da empada dele”. (coisa antiga, né?). Mesmo assim, executamos um projeto novo, bem concebido e que, além da urbanização, permitia o encontro entre as pessoas que, segundo Jaime Lerner, é o verdadeiro sentido do urbanismo. Fizemos, à época, muitas praças com esse fim. Para parte da população, eram apenas pracinhas, sem significado. Mas o projeto era orgânico, exatamente porque as cidades se humanizam com os pontos de encontro. Veja você como as pessoas se encontram no Mourads. Trocam informações, opiniões e afeto. Outra ideia, que trouxemos de Curitiba, foi a Casa da Memória. Foi concebida, na secretaria de Planejamento, a fim de que pudéssemos preservar a história de nossa cidade. E que história! Parece que a Prefeitura está reformulando. Ouvi trecho de entrevista da secretária de Cultura, Fernanda Maria Moreira, que me parece um pessoa muito competente. Disse que vai abrigar até mesmo a Academia Cachoeirense de Letras, sob o comando da eficiente Marilene. Acho tudo isso muito importante. A cidade precisa se mexer, passando, principalmente, por esse viés humano. Os tempos têm trabalhado muito desumanizar as cidades e, com isso, vamos perdendo nossa memória histórica. Não queria que fosse assim. Minha última frustração foi não ter conseguido realizar um sonho: conseguir que o professor Deusdedit escrevesse um livro sobre nossa história. Que pena.
Crônica Revista Leia - Publicada em 10/11/2018