Wilson Márcio Depes

Alguém ainda fala em eleição? Creio que não. Domingo à noite começou a lua de mel do novo presidente com o poder, sob os auspícios das orações do senador quase cachoeirense Magno Malta. O-que-deu-o-que-falar. Magno é um velho conhecido dos cachoeirenses. Bem, mas do alto de sua experiência, o ex-ministro Delfin Neto traçou o caminho da realidade. Num tom jocoso ou não, mas ele sabe do que está falando. Diz ele. No dia 1º de janeiro o novo presidente tomará posse e no dia seguinte, uma quarta-feira, terá que abrir a quitanda às nove da manhã com berinjelas para vender a preço razoável e troco na caixa para atender a freguesia. Pelos próximos quatro anos a rotina essencial será a mesma: abrir a quitanda, com berinjelas e troco. Todos os desastres da economia brasileira deram-se quando deixou-se de prestar atenção na economia da loja, como lembrou o jornalista Elio Gaspari. Nunca vi uma simplicidade tão realista. Ou, como diz minha secretária, “desse jeito”. Até lá são entrevistas e mais entrevistas, assédios os mais diversos e a famosa disputa de cargos. Não é fácil resistir a tudo isso. Claro que o presidente eleito vai enfrentar uma oposição severa, em todos os níveis, principalmente da imprensa. Ele não me parece preparado para isso, assim como o futuro ministro Paulo Guedes, da Economia. Bolsonaro já prometeu retaliação à Folha de São Paulo, com rancor, o que me parece mágoa de principiante. Certa feita o governador Laudo Natel, de São Paulo, prometeu fazer o mesmo com o jornal O Estado de São Paulo. A direção não ficou preocupada. Foi na contabilidade e verificou que a publicidade oficial representava apenas dois por cento de seu faturamento. Eles viviam dos pequenos anunciantes. Fico preocupado, apenas, com o ataque à liberdade de imprensa, pois a declaração do novo presidente não condiz com esses princípios. No mais, vamos aguardar para ver se tanta euforia seja prenuncio de novos tempos. Vamos rezar para que não haja decepção, pois as emoções se transformam também com muita rapidez e com a intensidade, pois a opinião pública é volúvel. Mas tem que ser considerada porque não existe nada melhor do que ela. Até a próxima semana.

Crônica Revista Leia -Publicada em 03-11-2018