Wilson Márcio Depes
O velho historiador cachoeirense, Waldemar Mendes de Andrade, que presidiu a Assembleia Legislativa e foi desembargador no Tribunal de Justiça, famoso por sua oratória ardente, dizia sobre a eleição em Cachoeiro que “passada a refrega, os combatentes ensarilhavam as armas e voltavam a ser amigos de infância”. Não é bem assim. O socialista Newton Meirelles, por sua vez, o contestava. Demonstrava que na análise dialética dos fatos históricos cada acontecimento é o efeito, o “fim”, do acontecimento precedente, é ao mesmo tempo, a causa do acontecimento seguinte, isto é, “o meio” para produzi-lo. Os tempos são outros. Estamos vivendo a época dos enragés, como em plena Revolução Francesa, mal comparando. O noviço político cachoeirense e atual prefeito Victor Coelho (PSB), que de herança política tem apenas a permanente vivência com seu irmão deputado Glauber Coelho, tragicamente morto em acidente em agosto de 2014, e um vínculo que seu pai, José Afonso Coelho, mantinha com o habilidoso dono do Colégio Ateneu Cachoeirense, Reverendo Jader, um dos melhores oradores deste Estado, já declarou o seu voto no segundo turno: Jair Bolsonaro (PSL). Por horror ao PT. Ele enfrentou as eleições de agora com apenas dois anos de mandato e, paralelamente, dois anos de experiência efetiva na política. Com o município em grave crise financeira, deposita confiança inabalável no governo Renato Casagrande (PSB), já que nunca foi prestigiado pelo governador Paulo Hartung. Hartung sempre teve preferência pelos seus adversários Rodrigo Coelho e Carlos Casteglione (PT), assim como interferiu na campanha de Glauber, quando foi candidato a prefeito, contribuindo na sua derrota para Casteglione. Nesse quadro de perspectivas históricas, ele enfrentou as eleições. Aliás, o inesperado das eleições atingiu em cheio a outrora cidade politizada de Cachoeiro de Itapemirim. Basta dizer, em síntese, que o ex-prefeito por dois mandatos, Carlos Casteglione (PT), alcançou a pífia soma de 3.119 votos em busca de um mandato para deputado estadual, o que inviabiliza completamente seu sonho de retornar à Prefeitura em 2020. Por outro lado, o prefeito não conseguiu eleger seus candidatos Alexandre Bastos (PSB), com 8.275 votos, e Pastor Delandi Macedo (PSC), 4.318 votos. Embora ambos tenham conseguido votações em patamares razoáveis, como visto. O vice-prefeito Jonas Nogueira (PP), candidato a deputado federal, com 14.114 votos, se cacifou para disputar a Prefeitura na próxima eleição. Com isso, os analistas consideram que Victor “ficou bem posicionado”, mesmo tendo Casagrande alcançado uma vitória muito apertada em Cachoeiro, como pondera o jornalista Wagner dos Santos, proprietário do jornal “ES de Fato”. Vou mais além. No entanto, não sei se essa foi sua intenção, mas o acaso, deixou a estrada aberta, sem grandes incômodos, para uma tentativa de reeleição. É só calibrar a mão para resgatar as promessas de campanha, que hoje são passíveis de críticas. Pois bem. Em outro campo, amigos mais íntimos asseveram que Theodorico Ferraço (DEM) tem confidenciado que o sonho dele seria encerrar a vida pública como prefeito de Cachoeiro. Sua performance no município é ainda muito boa. Alcançou 17.350 votos, caindo seis mil votos da eleição anterior, somando-se o fato de ter conseguido a reeleição de sua mulher, Norma Ayub (DEM), deputada federal, com 17.533 votos. Ferraço ainda possui o estandarte de suas obras na cidade. Nessa linha, o pastor Marcos Mansur (PSDB), eleito deputado estadual e que pretende se lançar na aventura de uma candidatura a prefeito novamente, não passou dos 3.832 votos. Nesse sobe e desce, em busca de elementos para se conjecturar a campanha a prefeito em 2020, que já começou antes do segundo turno se findar, os candidatos relevantes seriam, sem dúvida, o próprio Victor, o seu vice, Jonas Nogueira, que teve votação expressiva para deputado federal, o próprio Ferraço, que poderia abrir mão para a deputada Norma. Além da vereadora Renata Fiório (PSD) que, hoje, se posta como oposição ao prefeito Victor, colhendo seus desgastes, e aliada de Neucimar Fraga (PSD), hoje suplente de deputado federal, que alcançou somente 785 votos em Cachoeiro. Valadão, por sua vez, detentor da sigla no MDB, hoje afastado da política, apoiou Rose de Freitas (Podemos), para o governo, cravando apenas 6.195 votos; para deputado estadual se lançou em apoio ao seu fiel escudeiro médico Dr. Adail, que obteve 4.251 votos e, curiosamente, tinha simpatia pela candidatura do deputado federal, Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), com 247 votos. Dr. Adail já é o candidato do MDB a prefeito, com apoio de Valadão. Esse é o quadro que se esboça pós-eleição. A não ser que surja algum candidato que esteja distante de tudo e acima do que se tracejou, a história política continua a ser contada sem os seus líderes expressivos de ontem, restando apenas o incansável Ferraço. Que, segundo seus amigos íntimos, vai topar a parada.
Jornal Século Diário online - publicado em 11/10/2018