Wilson Márcio Depes
Vou escrever, temerariamente, antes das eleições. O mestre Rogério Medeiros pede, em suas crônicas, para que seja prudente. Ele tem muito receio de antecipar resultados ao vencedor em primeiro turno. Duas coisas, no entanto, carrego comigo como certeza, numa síntese totalmente apressada: a) nunca vi eleição tão complexa quanto esta; b) Bolsonaro ou Haddad devem, efetivamente, a eleição a Lula.
Ou seja: Bolsonaro, estranho e medíocre deputado do baixo clero no Congresso Nacional, do dia pra noite, passou a ser um grande líder popular contra o “petismo”, a ponto de se admitir uma vitória dele no primeiro turno. Por outro lado, Haddad é uma espécie de sombra do ex-presidente Lula, mesmo não sendo tão querido assim nas hostes do PT. Resumindo: Lula é quem manda no PT.
A eleição vai ser decidida não pelos méritos dos candidatos, mas “contra ou a favor do petismo”. E não é absurdo dizer que, por exemplo, num segundo turno, Ciro Gomes (PDT) vence a eleição do candidato Bolsonaro, que é a grande vedete. Rompendo todos os princípios da lógica, Ciro Gomes, segundo as pesquisas, não irá para o segundo turno. Os dois mais bem votados para a presidência da República, curiosamente, são também os mais rejeitados. E assim por diante. Quem erra? O povo, que escolhe assim, ou as estratégias políticas.
No Estado, ao que parece, Renato Casagrande (PSB) não corre risco, principalmente pela fragilidade dos candidatos. Paulo |Hartung deixou, ao desistir de uma candidatura, o mercado político sem ação e o tempo foi pouco para se recuperar da surpresa.
A explicação do estrategista José Carlos da Fonseca Júnior, notável do staff de Hartung, apesar de um político brilhante, não deixou muito claro – aliás, impossível fazê-lo - na entrevista na TV Século, o real motivo pelo qual o governador se esquivou em não disputar o pleito. Disse que Hartung, generosamente, teria evitado disputar porque, como estadista, “deu oportunidade para outro”. Mas, político é sábio. Como no futebol, não vê a jogada, antevê. O cenário político criou águas turvas demais para um mergulho seguro. Passados os resultados, o tempo será essencialmente de reflexões.
Se a eleição é confusa, é de irresolução o quadro para deputados e senadores. Tudo não passa de palpite. As pesquisas são um emaranhado de dados imprecisos. O que se tem a dizer, efetivamente, é que o eleitor carrega consigo uma incerteza e uma indefinição. A maioria não sabe até que necessariamente terá que escolher dois senadores. Não se sabe se a polarização entre Haddad e Bolsonaro atinge a escolha dos senadores. Creio que não. A maioria se esquivou dessa polarização, a não ser aquele que pretendeu obter algum proveito. Os favoritos são favoritos mesmo?
Outro ponto que demonstra, efetivamente, a falta de neutralidade ou isenção nas eleições foi o comportamento do juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, da primeira instância da Justiça Federal em Curitiba, ao autorizar, a pouco dias do pleito, a delação do ex-ministro Antônio Palocci, homem forte do Lula, delação essa que fizeram à Polícia Federal, em abril, na qual garante que o ex-presidente sabia do grande esquema de corrupção montado na Petrobras. Moro, estrategicamente, fez com que se recordasse o caso do grampo de Lula e Dilma, agora com evidências de tentativas de interferência no primeiro turno nas eleições presidenciais a ser realizado domingo (7).
O que se pode observar, no mínimo, é que os poderes da República, em todas as instâncias, precisam se vacinar para não serem contaminados por lutas pelo poder – legítimas só quando são disputadas por meio dos votos, com lisura. Sem dúvida que o juiz Moro interferiu, indevidamente, no pleito, propiciando elevada carga de rejeição para o candidato do PT.
O que se pretende, como Calamandrei expunha, é que a função do juiz é quase divina, de modo que ele deve estar tão seguro do seu dever que esqueça, cada vez que pronuncia a sentença admoestação eterna que lhe vem da Montanha: “não julgarás”. Aliás, é duro o evangelho do “não servirás a dois Senhores”.
A eleição vai ser decidida não pelos méritos dos candidatos, mas “contra ou a favor do petismo”
Artigo jornal Século Diário online - Publicado em 05/10/2018