Wilson Márcio Depes
Conversando com um amigo sobre os diversos tipos de escritores – ele tem curiosidade em saber como os textos são produzidos –esclareci que vários são os tipos. Tem uns que sentam e disparam a escrever como se estivessem recebendo uma mensagem mediúnica. Com efeito, as palavras vão surgindo com uma fluência e uma precisão impecáveis. E o texto sai perfeito. Lembrei-me do Ziraldo quando lhe pedi para fazer o prefácio de meu livro “Fotocrônicas 2”. Ele olhou para mim, dentro de seu estúdio, e me disse: “Li as suas crônicas e já sei o que vou fazer”. Levantou, foi para sua máquina de escrever Olivette Linea – 98, e daí a 30 minutos mandou o texto para sua secretária Ivone digitar no computador. Logo depois debruçou sobre o texto, trocando palavras, reescrevendo frases, e se indignando com as imperdoáveis imperfeições. No final, voltei para Cachoeiro todo feliz. Este é um tipo de escritor. Há aquele que sofre cada palavra, quebra a pedra do texto, refaz cada frase. Era o caso de Armando Nogueira, ex-diretor geral da Rede Globo, que faleceu em 29 de março de 2010, com um câncer no cérebro. De estilo machadiano, caprichava no texto e relia mil vezes até chegar à perfeição. E alcançava. Dizia que escrever era bom, mas melhor era depois de ter escrito. Dizem que Simenon, meio francês, meio belga, se fechava num quarto – cuja a porta sua mulher só podia abrir para lhe dar o soro que o alimentava e retirava o urinol – escrevia um romance de 300 páginas em duas semanas. Direto. E, horror dos horrores, perfeito! Cony, também falecido recentemente, só não tomava soro e nem usava urinol, mas – para minha inveja – escrevia como quem respira. Carlos Lacerda, por exemplo, escrevia seus violentos editoriais no jornal Tribuna de Imprensa – segundo me confessou Claudio Bueno Rocha – conversando com as pessoas. Ou seja, ao mesmo tempo que conversava escrevia com uma facilidade incrível. Quem escrevia também com muita facilidade, aqui em Cachoeiro, sobre qualquer tema, era o poeta Solimar de Oliveira. Vou parar por aqui, com inveja. Qualquer dia falo mais. Bom final de semana.
Crônica Revista Leia - Publicada em 06/10/2018