Wilson Márcio Depes

A essa altura do campeonato, com tudo que estamos vivendo, o preço da energia elétrica subindo desbragadamente, com várias residências assaltadas por dia, sem qualquer providência da polícia responsável, crimes contra as mulheres, declarações de candidatos à presidência da República de fundo profundamente racista, preconceituosa e que traz grande ameaça à nossa pseudotranquilidade institucional, uma querida amiga, suavemente, com a saúde mental em perfeitas condições, curtindo suas palavras cruzadas, me pergunta: “Aonde você passar seu réveillon?”. Tomei um susto. Aí me perguntei: esqueçamos tudo e vamos programar as nossas férias? Sem dúvida que era um mecanismo de defesa e uma sugestão para que eu não me agitasse tanto. Afinal, diria Gabriel García Márquez, a vida não é mais do que uma contínua sucessão de oportunidades para sobreviver. Aliás, nunca crônica de Marilene, outra dia, em defesa do otimismo, só acrescentaria uma pequena coisa. O pessimista sofre duas vezes: antes de depois. O otimista, ao contrário, só uma, quando não dá certo aquilo que esperava. Falar nisso, o Jackson Júnior, com toda razão, anuncia que a feijoada da Leia é mais um grande motivo para que possamos tornar nossa vida mais feliz. Repito um velho amigo meu: os homens verdadeiramente vivem e se afirmam quando encontram as razões de continuidade da vida; os homens somente não se renegam nem se desesperam quando identificam os seus irmãos entre os estranhos e podem consolar do puro exemplo do desencanto cotidiano. Tudo isso para não falar das decepções diárias? Acho que não. O ser humano, como diz o amigo Ziraldo, sempre otimista, é muito melhor do era ou que já foi. Ou, como uma velha amiga que encontrei outro dia na porta da igreja São Pedro: “Tem horror de amigo de infância. Se não tivesse amigo de infância ou espelho, não envelheceríamos”. Durma com um barulho desses.  

Crônica Revista Leia - Publicada em: 11/08/2018