Wilson Márcio Depes
Fiquei algum tempo sem ler as crônicas do Joaquim Ferreira dos Santos. E me dei mal. Um pouco por excesso de trabalho, um pouco por tédio da leitura dos jornais. Mas a leitura de jornais é um vício adquirido antes mesmo da adolescência. Conto. Vendia garrafas a fim de levantar um troco para comprar o bolinho “careca”, mais conhecido, na época, como “mata-fome”, no antigo Bar Vitória, e também o Jornal do Brasil. Na infância, antes mesmo de ter aprendido a ler completamente, com a professora Hilda Mancini, minha avó paterna me dava um dinheiro para comprar a revista “Fantasma”, um dos meus heróis preferidos e eternos. Adquiria na banca do Zeri, funcionário da Agência Santana. Mas, voltando ao Joaquim Ferreira, que é experto em Rubem Braga, diga-se por necessário, li sua crônica de segunda-feira, em O Globo. Dentre outros temas, fala do drama vivido por esta moça - Demi Lovato, que faz 26 anos no próximo dia 20. Observa, oportunamente, o cronista que ela passa pelo mesmo desespero de Janis Joplin, Amy Winehouse, Kurt Cobain, Jimi Hendrix e tantos outros. Só que ela, com sua antena delicadíssima, diria o velho Newton, parece que está antecipando as coisas, em sua música “Sober” – “Estou morrendo por dentro, me acorde quando os tremores sumirem”. Realmente não dá para entender todo o mal que escondem os corações humanos. Acho que posso puxar aqui um momento filosófico do velho Rubem Braga, depois de remexer na rede, em seu apartamento, e esticar um olhar para o oceano, como se procurasse uma resposta para o sentido da vida: “a vida é nada além de um sopro de prazer e dor”. Fato é que o drama dessa bela moça comove a todos nós, a tragédia de uma juventude que se debate entre os horrores da dependência química. Lamentavelmente, a grande verdade é que não está claro, nem um pouco claro, qual será o seu destino. Que Deus a proteja.
Crônica Revista Leia - Publicada em 04/08/2018