Wilson Márcio Depes
Claro que não posso fugir das redes sociais, aliás, como sempre pretendi, não nego. Os meninos com um ano de idade já mexem no celular muito melhor que eu. Tento interromper aquilo que já me parece um vício, mas a própria mãe me impede: “Deixa, só assim tenho sossego para fazer as coisas”. Bem, domingo passado fui socorrido pela doutora em neurociência da USP, Janaína Brizante, que revelou taxativamente que nosso cérebro não está preparado para lidar com as novas tecnologias, como as redes sociais. Respondendo à pergunta se as redes sociais aumentaram o sofrimento das pessoas, ela diz que em alguns aspectos sim. Revela que “Tudo depende do uso e da faixa etária. A má notícia é a seguinte: este cérebro que temos não evoluiu neste mundo. Evoluiu no meio do mato, sem geladeira, supermercado ou smartphone. Ele não está acostumado a lidar com esse monte de opções. Lá atrás, seu cérebro não tinha de lidar com a incerteza sobre a reação de outra pessoa quando se fala alguma coisa no mundo virtual. O cérebro que hoje lida com isso é um cérebro que evoluiu em ambiente muito diferente da internet. O máximo de conexão virtual era tomar um alucinógeno e tentar conectar com os deuses. Era uma experiência transcendental. Hoje, o mundo virtual está em qualquer lugar.”. A felicidade que as redes sociais permitiram compensa a infelicidade que criaram? Tudo depende do jeito as usamos. Ou seja, conclui Janaina, achamos que que podemos fazer tudo ao mesmo tempo, com a mesma qualidade, mas nosso sistema nervoso é limitado. Gostaria de ter mais espaço para conversar com você, prezado leitor, mas tenho que encerrar por aqui, o tema é fascinante. Aconselho, sinceramente, ler um pouco mais de Janaina Brizante. Sem trocadilho infame, brilhante.
Crônica Revista Leia - Publicada em 21/07/2018