Crônicas
As Amargas não...
2022-08-22 08:45:12

Wilson Márcio Depes

O renomado advogado Sérgio Bermudes já se prepara para escrever suas memórias. Aliás, semana passada concedeu brilhante entrevista no Conjur – Consultor Jurídica -, uma espécie de informativo jurídico que se diz o mais completo na sua área. Quero contar ao querido leitor desta Leia que Sérgio viveu os momentos mais dramáticos da ditadura militar na qualidade de advogado e possui uma história muito rica para expor. Como se sabe, foi o autor da peça na área cível quando a ditadura quis “suicidar” Vladmir Herzog. Mas conto outra história e que os fatos a tornaram atual. O famoso Sérgio Cabral, hoje preso, quis desapropriar o escritório dele no Rio de Janeiro. Cabral baixou um decreto declarando que era de utilidade pública o edifício para que ali funcionasse a Assembleia Legislativa. Conta ele: “Eu vi e mandei fazer as estimativas: seriam necessários R$ 2 bilhões para adaptar o edifício onde está o nosso escritório para que ali funcione a Assembleia Legislativa. Eu mostrei que o projeto de construção do Tribunal Regional Eleitoral do Rio estava orçado em R$ 92 milhões. Então fui para a imprensa. Eu estava em Hong Kong, Sergio Cabral me ligou e disse que queria dizer que não tinha nada com isso. Eu perguntei então se a assinatura era falsa. O governador me disse que tinha assinado, que eu sabia como eram as pressões, mas que eu tinha muito prestígio e ele sabia que isso não ia ficar de pé. Eu respondi que não sabia se tinha muito prestígio, mas que tinha muita garra e que iria lutar por todos os meios possíveis. Depois que a procuradora-geral do estado, uma pessoa admirável, Lucia Leia Tavares, mostrou que o estado não teria dinheiro para fazer aquela obra colossal, levaria muito tempo para desapropriar e que haveria uma luta judicial muito grande, o estado recuou. Conta-se que foi mais um instrumento, que a ideia de desapropriação do edifício foi engendrada pelo Paulo Melo, deputado, e pelo Regis Fischer, que foi meu estagiário. Não gostaria de acreditar nisso, eu prefaciei o livro dele, ele trabalhou junto com o irmão e com o pai no escritório.” Claro que como esta, teremos mil outras histórias desse cachoeirense que orgulha sua terra, principalmente por ser o advogado mais importante do país. Só que de suas “memórias” estarão excluídas as lembranças amargas.

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