Wilson Márcio Depes
Minha querida amiga Marilene, em busca permanente de se recriar, criar coisas novas, tornar a vida mais interessante, me propõe um doce desafio. Ela me sugere um tema para crônica aqui em nossa Leia. Em contrapartida, lanço outro para ela. Como sempre admirei seu modo pujante, audacioso e contente de viver, como se não pudesse perder um minuto sequer - vida feita de tempo! -, sugeri o seguinte: escreva você sobre a vida. Ela não perdeu tempo e, em suave desafio, disparou em seguida: escreva você sobre “expectativas, sua relação com o geral e com você mesmo, pois estamos vivendo um tempo de muitas incertezas”. Lembrei-me de uma crônica de Armando Nogueira que, desafiado por Clarice Lispector, escreveu sobre as perspectivas de sua própria vida parodiando uma partida de futebol. Como ele, querida Marilene, minhas esperanças de vida têm sido também um sofrido aprendizado de todos os sentimentos que murcham e florescem numa partida de futebol: o amor, o medo, o ódio, a inveja, a coragem ali estão, revestindo ou informando cada gesto da bola, cuja meta é sempre o coração – para viver uma grande alegria ou para morrer de infarto. E não se trata de deslocamento de sentido. Ora, quais são as expectativas de um ser com impulso, ao mesmo tempo, em direção ao eterno e o caráter finito de sua própria existência? Claro que o tema não é nada novo, mas vida, penso eu, tem essa realidade como pano de fundo. A história de nosso país, por exemplo, tem sido um grande aprendizado sobre a alma humana. Tenho-me indignado muito. Das pessoas, devia duvidar mais porque tenho sofrido por causa delas. Mas, uma só que corresponda, ou supere a minha expectativa, basta para me reconciliar com o gênero. Talvez seja essa a metáfora de como vejo nosso país. Idealista? Acho que ficaria melhor uma idealista-realista. Isto é: dos que procuram ser fiéis a um ideal, mas que reconhecem que ele nunca será completamente atingido. Mas, em sendo o ser humano um milagre de Deus, com certeza há de descobrir o caminho para criar um mundo justo, mais solidário, no qual cada um possa amar o outro como a si mesmo. Tomara que eu não lhe tenha decepcionado e o jogo de nossa vida possa terminar em paz.