Wilson Márcio Depes

Carlos Heitor tinha horror ao saudosismo. Dizia que era a coisa mais cretina de quem tem mais de 30 anos. Mas, no entanto, há espaço para memória. Pois bem. Um tempo bom sem ir ao Jaraguá. Frequentei muito, principalmente para usar a piscina onde praticava natação. Esta semana fui até lá, nadei como nos velhos tempos, mas senti algumas mudanças que mexeram com o mais íntimo de meus sentimentos. Procurei seu Zé, que cuidava, com todo zelo, da piscina e meu amigo querido, que oferecia sua estima especial, nas horas de folga, contando quantas voltas eu tinha dado na piscina. Onde estará seu Zé? Já fui buscar notícias dele, mas mesmo os novos servidores do clube não sabem informar. Mas eu continuava procurando dentro de mim, nas minhas lembranças, nas fendas da alma. Ele chegou a me buscar, em meu escritório, para, como ele dizia, “resolver uns problemas de terra”. Fugiu de minhas mãos, do meu convívio, mas não de minhas mais ternas lembranças. Mais na frente, próximo dos vestiários, fui procurar, atabalhoadamente, dona Maria, a baixinha mais querida do clube. Dela tive notícias. Disse o rapaz da piscina: “Ela esteve aqui domingo!”. Queria muito encontrá-la. Mas um detalhe importante. Disse o rapaz da piscina: “O senhor vai fazer uma crônica dela pra revista Leia?”. Bem que ela merece, respondi. Poderia ser uma homenagem para o Dia da Mulher, por exemplo. Mas a busca na memória de tudo e de todos me deixou meio tonto, as recordações me prostraram, os pensamentos sem coordenação e uma lágrima furtiva. Deixei o clube caminhando lentamente. Já na saída, deparei com a secretaria. Faltava Osires que, infelizmente, já faleceu. Fazia do clube a sua vida. Olhos com lentes bem grossas, sabia de tudo que ali se passava. Era o um gerentão. Mas a falta de notícias deixou a minha noite incompleta. Talvez encontre algum sossego em Eduardo Galeano: as palavras são capazes de levar você a algum lugar no qual você já não está? Pode ser que sim. Vou dormir.