Por Wilson Márcio Depes
Invejo o amigo que, a essa altura do campeonato, já está separando os livros que lerá no recesso do Judiciário. Lanço um olhar na relação e percebo que todos os livros já escolhidos fazem parte do meu sonho de consumo. Um deles é a autobiografia não autorizada do genial e eterno Jô Soares. Um dos talentos mais notáveis que honram o nosso país. “Tem como não gostar?”, pergunta o amigo. Não. Não tem. Nesse primeiro volume ele conta, como ninguém, fatos importantes de sua vida. Estou me lembrando, agora, do colombiano Gabriel Garcia Marques que deixou esta lição: “A vida não é a que a gente viveu e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la”. Acho, acho não, tenho a certeza que Jô tenha feito isso. E o fez com maestria. Vou comprar o seu livro. Viver no Brasil vale a pena. Tem muita gente boa por aí. Jobim dizia – vocês se lembram? – que “viver no exterior é bom, mas é uma merda. Viver no Brasil é uma merda, mas é bom.” Continuo. Há muitos outros livros na lista de meu amigo. Por exemplo, Francisco Bosco escreveu “A vítima tem sempre razão?”.A luta política no Brasil se radicalizou, ganhou novas vozes e tomou as ruas e as redes sociais. O livro de Bosco, segundo quem leu, é uma análise sóbria e ponderada - e a quente - desse novo ambiente marcado por estridência e intolerância. Nos últimos anos, o debate público no Brasil viu o fortalecimento de vozes novas e combativas. Feministas, movimentos negros e LGBTs tornaram-se protagonistas de batalhas por reconhecimento e contra o preconceito. O palco dessa disputa são as redes sociais, sobretudo o Facebook. A nova arena democratizou a discussão, mas também elevou a voltagem dos radicalismos, à esquerda e à direita do espectro político. É esse o cenário analisado por Francisco Bosco. Levarei também em minha mochila o eterno “Lord Jim”, de Joseph Conrad, que nos mostra um jovem preso a seus sonhos de dignidade e heroísmo, a ideais fundamentados em uma educação esmerada e em um meio familiar muito austero. O destino o levou a se tornar um marinheiro, nos mares do Sul do Pacífico, preso um incidente infeliz, que o deixa para o resto da vida escravo de um sentimento honra machucado.